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Fobias
Quando o Medo é Uma Doença
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Tratamento


Até a década de 50, imperava a teoria psicanalítica das neuroses. Em poucas palavras, um sintoma psíquico era considerado como a ponta de um iceberg. De nada adiantaria retirar essa ponta que o gelo iria subir, e os sintomas iriam reaparecer. O tratamento portanto consistia em destruir (ou melhor, reestruturar) todo o iceberg, o que somente seria possível com anos de análise. O resultado prático sempre ficou bem abaixo das expectativas. Na década de 50 surgem os primeiros trabalhos do psiquiatra sul africano Joseph Wolpe, falecido há poucos meses, que inicia seu processo de inibição recíproca, posteriormente denominado dessensibilização sistemática, baseado em trabalhos da década de 20 de Watson. Em síntese, esse grande médico começou a tratar pacientes com fobias associando uma sensação de prazer e relaxamento a situações imaginárias ou reais de medo e evitação. Como o relaxamento é incompatível com o medo, a fobia tende a desaparecer em pouco tempo.

De modo geral, o tratamento das fobias está baseado na quebra do link entre as sensações de desprazer e às situações ou objetos que desencadeiam as crises. Assim, se um elevador gera um reflexo de medo, é possível quebrar esse aprendizado desfazendo o ciclo vicioso.
Isso é obtido de diversas maneiras. A mais conhecida é a dessensibilização sistemática. O paciente é primeiramente treinado em técnicas de relaxamento profundo. Em seguida, o terapeuta instiga-o a aproximar-se, de maneira gradual e sistemática, do objeto ou situação que lhe provoca medo, culminando numa dessensibilização.
Após o treinamento em relaxamento, o paciente é convidado a escrever todos os seus medos, já que em geral são vários, atribuindo uma hierarquia do maior para o menor medo. Inicia-se então, o processo pelo menor medo. Vou usar como exemplo um elevador. Assim que o paciente é colocado em relaxamento profundo, o terapeuta convida o paciente a imaginar que está na rua, em frente a um prédio com elevador. A qualquer momento o paciente pode indicar com a mão se está muito ansioso, o que pode interromper o processo, ou levar o terapeuta a aprofundar o relaxamento. Se o paciente tolerar bem a idéia, o terapeuta segue em frente, convidando o paciente a imaginar que está entrando no prédio e agora parando em frente ao elevador. Tolerado esse passo, o terapeuta sugere que o paciente imagine estar entrando no elevador, mas a porta não se fecha. E assim por diante, até que o paciente tolere imaginar que está num elevador cheio de gente, num andar alto, e que o mesmo pare momentaneamente. Tão logo essa fobia seja tratada, a próxima da lista recomeça o processo, até que todas as fobias sejam abordadas.
Tem sido usado, também com sucesso, o monitoramento do paciente com equipamento de biofeedback, aonde suas funções vitais como pulso, resistência de pele ou respiração, são monitoradas por equipamento computadorizado possibilitando um acompanhamento mais objetivo.
Uma variante da atualidade é a dessensibilização virtual. Aqui, o paciente enfrenta seu medo não imaginando, mas sim vivenciando as situações em ambiente virtual. Em geral seu pulso é monitorado e, tão logo o terapeuta perceba aumento significativo da freqüência cardíaca, congela a imagem e induz relaxamento.
Várias formas alternativas ou complementares também têm sido usadas. Por exemplo, em pacientes com síndrome do pânico, após o controle das crises com medicação específica (em geral inibidores seletivos de recaptação de serotonina) inicia-se um processo de exposição ao vivo, quando o paciente, com ou sem auxílio de terapeuta, vai ao encontro das situações que lhe causavam medo. Ele se expõe, sempre de maneira gradual e progressiva, não tem mais a crise (controladas pela medicação), e com algumas exposições desfaz-se a fobia.
Para outras fobias não desenvolvidas em função do pânico, tem sido utilizados métodos como inundação de estresse, aonde o paciente - com seu consentimento - é inundado por seus medos, até que seu cérebro "perceba" que não exista risco. Tem sido relatados resultados interessantes com esse método, e parece que não funciona apenas em fobias originárias de transtorno de pânico. Outro método recente tem sido o EMDR (Eye Movement Desensitization and Reprocessing), originariamente utilizado em tratamento do estresse pós traumático mas que parece oferecer bons resultados. Nesta recente forma de terapia - começou há apenas 10 anos - os dois hemisférios cerebrais são alternadamente estimulados, originariamente com movimentos oculares e mais recentemente com estímulos tácteis ou auditivos, enquanto o terapeuta estimula o paciente a vivenciar seus pensamentos, sensações e imagens fóbicas, com o objetivo de alterar o processamento das memórias.
Minha experiência pessoal é de pouco mais de 15 anos com dessensibilização sistemática, há dois anos com auxílio de biofeedback. Recentemente recebi treinamento em EMDR e os primeiros resultados parecem efetivamente promissores.



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