
A Evolução
da InteligênciaRenato M.E. Sabbatini,
PhD
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Religião
Vamos fazer um exame da religião. A
capacidade de auto-reconhecimento nos levou muito cedo à compreensão de
que todos os seres humanos acabam por morrer, um feito que nenhum outro
animal é capaz. A constatação da mortalidade, então, separa os seres
humanos do resto do reino animal. Isso, como veremos, levou,
eventualmente, aos rituais de sepultamento, ao culto dos mortos, à
crença na vida após a morte, nos espíritos, nos deuses e outras
entidades abstratas e não diretamente observáveis, mas que são
relacionados com a Natureza, e à qual denominamos genericamente de
religião.
Os especialistas concordam que enterrar os mortos é o primeiro sinal que podemos observar no registro histórico da humanidade como algo semelhante à religião. Enterros dos corpos dos mortos no Paleolítico Superior (40.000 a 10.000 anos atrás) refletem o surgimento de um lado espiritual humano, pois, além da elaborada preparação e a seleção de locais especiais para o enterro, estes primeiros H. sapiens sapiens claramente faziam oferendas mortuárias de objetos da vida diária, tais como flores, enfeites corporais, ferramentas, armas e utensílios de cozinha, bebidas, alimentos, etc, que eram colocadas no túmulo do falecido. Isto marcava, evidentemente, a existência de uma crença na vida após a morte. como ocorre em todas as religiões de origem neolítica, e nas modernas também. Nas espécies antecessoras do Homo e nos australopitecos isso não pode ser demonstrado, pois eles não enterravam ritualmente seus mortos, embora podemos imaginar que reconheciam a morte de seus semelhantes e os “pranteassem”, como acontece em macacos antropóides, que manifestam comportamento semelhante ao luto.
Porém, evidências arqueológicas de
sites de neanderthis, como Shanidar, no Iraque, e Le Ferrassie, na
França, têm dado provas de que o Homo sapiens neanderthalensis,
aparentemente enterravam seus mortos em posições específicas. No
entanto, os neandertais não pareciam depositar oferendas, por isso,
provavelmente eles eram desprovidas de rituais e outras atividades
simbólicas similares ao culto mortuário.
Por que a religião evoluiu para o que é hoje, ou seja, um sistema organizado e fielmente transmitido de crenças e de fé? Ela existe nos povos neolíticos mais primitivos ainda existentes, na forma de um sistema de mitologias cosmogônicas (de como surgiu o mundo natural e os seres humanos), rituais e superstições, intermediadores das divindades como os pajés, xamãs e sacerdotes, oferendas e sacrifícios aos deuses, animismo, etc.. O melhor palpite é que ela é a resposta do homem às forças incontroláveis da natureza. O autor Gregory J. Rosmaita expressou isso de forma clara:
"Os rituais de sepultamento dos povos pré-históricos é um testemunho mudo da vontade humana universal de manter a ilusão de controle sobre as forças naturais incontroláveis. Enquanto uma ilusão de controle não puder ser lançada sobre a assustadora extensão física selvagem que se estende entre o nascimento e a morte, nem a psique e nem o intelecto podem enfrentar a morte com total confiança. Somente através da fé a humanidade poderá enfrentar o mistério último da existência, sem desespero. [...]. Pego entre o nascimento e a morte, o homem desenvolveu ritos funerários sofisticados, não só para o benefício dos mortos, mas como um meio com o qual ele pode afastar o fantasma sempre presente da morte "Arte e Cultura
Outra dádiva da
inteligência, a capacidade de observar a natureza ao nosso redor e
tentar entendê-la, levou à arte, como sua expressão simbólica, para
fins rituais, mágicos ou estéticos. Ela parece ter começado com as
gravações em relevo e as pinturas ruprestes, realizadas nos tetos e
paredes das cavernas onde o H. sapiens sapiens vivia. Estas formas de
expressão apareceram pela primeira vez na África há cerca de 75,000
anos atrás (claramente observadas na caverna de Blombo, por exemplo),
ou até mais antigas ainda (um tipo de marcação artefatual humana, as
chamadas cúpulas, que são depressões simétricas escavadas na rocha, e
marcas sinuosas, em X e em zigue-zague, entalhadas em ossos, claramente
com uma função simbólica, foram encontradas em cavernas na India,
datadas de 100.000 anos atrás). .
18,000 anos AC |
("Vênus de Willendorf") 24.000 AC |
![]() Flautas de
osso d 20.000 AC
|
De fato o
eminente especialista Ian Tattersall acredita que a arte
tornou-se possível pela existência de excedentes econômicos (nas
cavernas, bem alimentados com carne defumada da caça de grandes
animais, permitiu que os seres humanos tivessem muito tempo livre para
a decoração e o entretenimento). A arte também pode ser uma tentativa
desses primeiros humanos modernos para descrever e explicar o mundo ao
redor deles e como eles se relacionam com ele. É interessante como uma
das primeiras manifestações da arte rupestre eram impressões das mãos,
obtidas esfumando-se pigmento ocre ou negro ao redor da mão firmemente
apoiada e aberta sobre a parede da caverna. Existem milhares dessas
impressões, que dão a impressão de serem uma manifestação de
individualidade, tipo uma assinatura do artista. |
Renato M.E. Sabbatini, PhD Revista Cérebro & Mente, Fev/Abr 2001 |
Copyright
(c) 2001 Renato
M.E. Sabbatini
Universidade
Estadual de Campinas,
Brasil
Piblicado
inicialmente em 15 de fevereiro de 2001.
Atualizado em 18 de setembro de 2011
URL
desta página: http://www.cerebromente.org.br/n12/mente/evolution07_p.html