A Localização da Consciência
Uma Visão Histórica

Em um passado distante, acreditava-se que, em alguma parte do corpo, havia uma substância responsável pela formação da consciência. Essa idéia "queimava os neurônios" dos pensadores gregos da antiguidade, os quais achavam que a mente e a consciência tinham assento nos pulmões, sendo o ar o elemento responsável pela sua produção.

Mesmo quando os conceitos se modificaram, lá pelo sexto século A.C. , e o cérebro passou a ser reconhecido como o centro das atividades mentais, ainda assim persistiu a idéia da existência de uma substância determinante dessas atividades, a responsabilidade tendo sido transferida para o líquido céfalo-raquiano.

Alijada essa concepção, surgiu outra indagação : Existe um "centro cerebral da consciência" ? No século XVII, por assim pensar ou talvez por receio das poderosas pressões teológicas da época, René Descartes enunciou estar a mente assentada na glândula pineal e que, através dela, a "alma" ( uma espécie de etéreo consciente superior, mais tarde representada, metaforicamente, por um homúnculo* - símbolo herdado dos teólogos medievais ), se comunicava com o soma. Assim, "alma" e mente ( e, por inferência, a consciência) se dissociavam do cérebro e do corpo. Estava criado o dualismo. Três séculos depois, Daniel Dennett, em seu livro "Consciousness Explained", ao se referir à teoria de Descartes como sendo "O Teatro Cartesiano", contestaria, com veemência, a sua validade.


* Este homúnculo não deve ser confundido com os homunculi criados por Penfield e Rasmussen para representar, metaforicamente, a organização topográfica das áreas sensorial e motora, dispostas nas córtices parietal e frontal. O homúnculo do "Teatro Cartesiano" está sentado em uma sala de controle virtual, bem no interior do cérebro, monitorando tudo e manipulando os devidos cordéis, para comandar as ações físicas e mentais da pessoa. Ou, como sugere a Fig.1, trata-se de um homem, postado junto a um gigantesco cérebro, vigiando, através dos olhos desse cérebro, o mundo ao seu redor.

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O homúnculo do Teatro cartesiano, segundo uma concepção apresentada
por Stephen Jones em "Introduction to the Physiology of Ordinary
Consciousness". Conference : "Towards a Science of Consciousness" ,
Tucson, Arizona, Abril,1996.

Mas as tentativas para "localizar" a consciência prosseguiram : Ao constatar que pacientes com a síndrome do "split-brain" (cada um dos hemisférios cerebrais funciona separadamente), ainda assim se identificavam como uma única pessoa, Derek Parfit concluiu que isto só poderia ser explicado pela existência de uma "região executiva da consciência", para onde convergiriam todas as informações geradas no cérebro. Recentemente, Joseph Bogen situou o mecanismo de formação da consciência ( não ela em sí ) no núcleo intralaminar do tálamo. Conquanto tais estudos sejam relevantes, tudo indica que a consciência não está circunscrita a essa ou aquela área, mas se espalha, difusamente, pelo cérebro, em consonância com uma de suas principais características : ser, simultaneamente, uni temporal e múltiplo espacial.

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