Ladislas Joseph von Meduna nasceu
em uma familia proeminente em Budapest, Hungria, em 1896. Ele estudou medicina em Budapest entre 1914 e 1921, um
período em que seus estudos foram interrompidos para servir no front italiano na I Guerra Mundial, entre
1915 e 1918.
Logo após formar-se, Meduna demonstrou interesse em se tornar um pesquisador em neurologia, assim logo ele
conseguiu uma colocação no Instituto Interacademico de Pesquisas sobre o Cérebro, também
em Budapeste. Ali, ele desenvolveu diversas linhas de pesquisa sobre a estrutura e a função da glândula
pineal e a microglia, a neuropatologia da intoxicação por chumbo, avitaminoses e várias outras
em neuropatologia. Em 1927 ele mudou-se para o Instituto de Psiquiatria e começou seus trabalhos clínicos
e de investigação em psicopatologia.
O interesse de von Meduna em tratar a esquizofrenia por meio de métodos somáticos começou
com seu trabalho sobre o aparente antagonismo entre esta doença e a epilepsia. Ele descobriu que 16,5% dos
pacientes epilépticos no Instituto que desenvolviam sintomas psicóticos melhoravam da epilepsia.
Uma associação reversa também parecia ocorrer: entre mais de 6.000 pacientes esquizofrênicos
de uma pesquisa realizada, apenas 20 tinham manifestado epilepsia simultaneamente. Vários relatórios
incidentais também pareciam indicar que a esquizofrenia podia ser curada em pacientes que desenvolviam ataques
epilépticos. i
Desse modo, von Meduna teve a idéia de que as convulsões artificialmente provocadas poderiam ser
usadas para tratar a esquizofrenia. Ele tentou usar diversos agentes farmacológicos, sem exito, tais como
os alcalóides estricnina, tebaína, coramina, cafeína e brucina. Finalmente, ele descobriu
que cânfora dissolvida em óleo era efetiva em animais e seres humanos. De modo a experimentar essa
forma de tratamento em pacientes reais, sem colocar sua carreira acadêmica em risco, von Meduna utilizou
um hospital psiquiátrico menor e mais afastado, localizado em Lipotmezö. Em 23 de janeiro de 1934,
ele tentou usar injeções de óleo canforado em um paciente de 33 anos que estava há
varios anos afetado por esquizofrenia catatônica. Após 5 injeções espaçadas entre
si por alguns dias, a catatonia e os sintomas de psicose foram totalmente revertidos. Aumentando sua casuística
para 26 pacientes, von Meduna conseguiu recuperação total em 10 pacientes, e uma melhoria dos sintomas
em três deles, desse modo conseguindo uma porcentagem de 50% de resultados positivos com a convulsoterapia.
Logo em seguida, von Meduna descobriu o pentilenotetrazol, ou metrazol (também chamado de Cardiazol), um
potente agente convulsivante de ação central, como sendo mais efetivo e rápido em induzir
convulsões do que a cânfora, e começou a usá-lo na forma de injeções intramusculares
e intravenosas em seus pacientes.
Ele publicou seus primeiros resultados em 1935, causando uma comoção na psiquiatria em todo o mundo,
uma vez que até então a esquizofrenia era considerada uma doença hereditária e impossivel
de ser curada. Em 1939, ele publicou um livro em alemão, intitulado Die
Konvulsionstherapie der Schizophrenie (A Convulsoterapia da Esquizofrenia), na
qual descreveu seus resultados com 110 pacientes adicionais tratados com metrazol. Ele relatou a espantosa porcentagem
de 95% de remissão da esquizofrenia em pacientes agudos, e de 80% em pacientes com menos de um ano de duração
da doença. A efetividade da terapia diminuia consideravelmente em função da cronicidade da
doença. Seus resultados foram rapidamente reproduzidos em muitos paises, e o metrazol tornou-se a terapia
de escolha, não obstante seus severos efeitos colaterais sobre os pacientes. O trabalho de von Meduna influenciou
a descoberta de uma forma mais estável, menos prejudicial e mais efetiva de convulsoterapia, usando eletrochoque
transcraniano, e que foi descoberta pelos médicos italianos Ugo
Cerletti e Lucio Bini, em Roma, em 1937. Em conseqüência, a
convulsoterapia química por metrazol foi logo abandonada.
Além desta, von Meduna também desenvolveu um segundo tipo de terapia somática, usando inspiração
de dióxido de carbono, em uma mistura de 30% de CO2 com 70% de O2.
Ele conseguiu bons resultados no alívio de sintomas obsessivos, mas como era uma forma bem menos efetiva
do que a convulsoterapia, também foi abandonada pela psiquiatria.
Com o aumento do anti-semitismo e o acesso ao poder pelos nazistas, von Meduna resolveu emigrar para os EUA no
ano seguinte (1938), estabelecendo-se primeiro como professor de neurologia da Loyola University, em Chicado, e
posteriormente no Instituto de Psiquiatria de Illinois, onde ele trabalhou até morrer, em 1964. Uma de suas
últimas contribuições à psiquiatria foi o estudo da oneirofrenia, um estado confusional
parecido com sonho e fuga.
De: História da Terapia de Choque em Psiquiatria
Por: Renato M.E. Sabbatini, PhD
Fonte: Revista Cérebro & Mente, Dezembro 1997/Março 1998