A neurocirurgia estereotáxica é um método minimamente invasivo de cirurgia cerebral. Em outro palavras, pode ser usado para alcançar as áreas mais inacessíveis dentro do cérebro, sem recorrer a abertura extensa do crânio e à destruição desnecessária e indesejável de áreas de cérebro normais que estão ao redor do alvo da cirurgia, como freqüentemente acontece com cirurgias invasivas convencionais do cérebro.
A abordagem estereotáxica representou um progresso técnico notável em neurocirurgia. Tem indicações precisas e muitas vantagens, e inovou a terapia de várias doenças focais do cérebro (quer dizer, quando a doença está sendo causada por uma alteração patológica que pode ser localizada em uma área particular e restrita do cérebro), como tumores de cérebro, desordens vasculares congênitas, a doença de Parkinson, focos epilépticos, etc.
A cirurgia estereotáxica foi tornada possível
pela invenção de um aparelho pelo cirurgião britânico Victor Horsley, no princípio deste século. Conhecido como o aparelho de Horsley-Clarke,
permite o posicionamento preciso da cabeça do paciente dentro de um sistema de coordenadas geométricas,
de forma que cada estrutura dentro do cérebro pode ser alcançado a partir do exterior. O neurocirurgião só precisa fazer uma abertura pequena no crânio do paciente, sob anestesia local. Então, uma sonda reta e fina é introduzida no cérebro por este orificio, e usando um sistema notavelmente preciso de coordenadas geométricas, é dirigido até a estrutura interna do cérebro que o neurocirurgião quer remover. |
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Um atlas do cérebro é uma espécie de mapa destas estruturas para o neurocirurgião. Dependendo do sistema que é usado (há muitas variações), cada estrutura de cérebro recebe três números, ou coordenadas: no sistema de referência retangular, ou sistema de coordenadas cartesianas, eles representam as posições ao longo de três eixos ou dimensões. Também há um sistema de coordenadas polares que usa uma combinação de ângulos e comprimentos para especificar as coordenadas das estruturas do cérebro. A cirurgia estereotáxica moderna foi inaugurada por um número de cientistas e médicos pioneiros, tais como, entre outros; Ernst Spiegel, um cirurgião de Filadélfia, EUA, e pelo neurocirurgião sueco Lars Leksell que inventaram aparelhos satisfatórios para uso clínico em humanos, que ainda estão em uso até hoje. |
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Primeiro, para realizar a cirurgia, o cirurgião calcula o ponto exato onde o crânio será aberto. Com ajuda de uma broca de mão ou moto-perfuratriz, uma abertura pequena é cuidadosamente perfurada no osso exposto. O paciente está sob anestesia local, a maioria do tempo. | |
Em seguida, a cabeça do paciente é colocada firmemente no aparelho estereotáxico, usando pontos predeterminados de referência nos ossos da cabeça. | |
Agora uma sonda, que pode ser um eletrodo metálico ou um cânula oca é presa ao aparelho estereotáxico e é inserida no cérebro e atravessa o buraco, até que alcança o ponto calculado, dentro do cérebro. Com radiografias feitas com um aparato portátil, é possível visualizar onde a ponta da sonda está localizada, e aumenta a precisão de sua localização. A lesão de uma área pequena dentro do cérebro pode ser feita passando-se uma corrente elétrica direta ou alternada na ponta do eletrodo (o qual é isolado eletricamente aon longo de todo seu eixo, com exceção da ponta, que está em contato com tecido nervoso). A corrente direta destrói tecido por ação eletrolítica, enquanto a corrente alternada destrói através de coagulação por calor (usando uma radiofreqüência, aquece o tecido até 70 graus Centígrados, de forma muito similar aos fornos de micro-ondas). |
Créditos das imagens: Mark,
V.H. e Ervin, F.R.. " Violence and the Brain", Harper & Row, New York, 1970.; Schaltenbrand e Wehre.
"Stereotactic Atlas of the Human Brain"
De: A História de Psicocirurgia
Autor: Renato
M.E. Sabbatini, PhD,
Fonte: Revista
"Cérebro & Mente",
junho de 1997,