Incomumente
habilitado para entender e praticar a fusão entre essas duas ciências,
Walter teve então a idéia de criar os primeiros "animais"
robóticos autônomos, que ele batizou de Elsie e Elmer (ELectroMEchanical
Robot, Light-Sensitive). Eram duas "tartarugas", como ele as denominou,
a partir de um personagem do livro "Alice no Pais das Maravilhas".
Do
ponto de vista mecânico e eletrônico, eram bastante simples:
os "músculos" eram dados por três rodas montadas em triciclo,
sendo duas de propulsão e uma de direção, e atuadas
por motores elétricos independentes para cada uma delas. Os "sentidos"
eram bem primitivos: apenas um sensor de luz e um sensor de contato, montados
externamente. A alimentação de energia era fornecida por
uma bateria comum, montada na parte de trás. Uma carapaça
de plástico abrigava e protegia todo o conjunto.
O "sistema nervoso" à bordo dessa curiosa criatura era extremamente simples: um circuito analógico com apenas duas válvulas eletrônicas, que comandava os motores das rodas e de direção a partir da informação dos sensores. As tartarugas "sabiam" fazer apenas duas coisas: evitar obstáculos grandes, recuando quando batiam em algum, e seguir alguma fonte de luz. Quando a fonte de luz era muito intensa, o robô recuava, ao invés de avançar. (em termos comportamentais, Walter criou animais fototrópicos, como as mariposas).
Veja alguns dos registros históricos do projeto do Prof. W. Grey Walter.
A
hipótese original de Walter se comprovou. A interação
entre o "sistema nervoso" das tartarugas-robô de Walter e o ambiente,
criava comportamentos inesperados e complexos. Os comportamentos nunca
se repetiam exatamente, mas seguiam um padrão, geral, exatamente
como em um animal.
Por exemplo, Walter construiu uma pequena cabana, onde Elsie podia entrar e recarregar suas baterias. No topo da cabana ele colocou uma lâmpada. Imediatamente notou que as tartarugas vagavam pela sala, mas acabavam procurando a cabana quando suas baterias começavam a ficar mais fracas e se ali se recarregavam, saindo depois para "explorar" o ambiente, à busca de novas fontes de luz.
Colocou também uma lâmpada no topo de cada tartaruga, e observou o aparecimento de um comportamento social de interação entre ambas, que dançavam uma ao redor da outra, em comportamentos de atração e repulsão que evocavam danças de cortejamento sexual e defesa do território!
Observando isto, Walter escreveu, maravilhado, que "notava-se uma incerteza, aleatoriedade, livre-arbítrio ou independência [que eram] aspectos do comportamento animal e da psicologia humana". E mais: "apesar de serem grosseiras [as tartarugas] davam uma impressão de terem objetivos, independência e espontaneidade."
Devido ao comportamento exploratório, especulativo, dos robôs em relação ao ambiente, Walter as considerava uma nova "espécie animal", com o nome científico de Machina speculatrix… Em uma segunda série de experimentos, o cientista criou tartarugas-robôs capazes de aprendizado, que ele mais uma vez batizou com o nome de Machina docilis ("máquina capaz de ser domada"). Ela aprendeu a associar um assobio à uma luz, de tal forma que se comportava como o proverbial cão de Pavlov, buscando o som como se fosse a luz!
Com estes trabalhos, W. Grey Walter passou a ser considerado como um dos pais da cibernética, a nova ciência criada por Norbert Wiener e Warren McCulloch nos EUA, naquela época. Suas tartaruguinhas foram um dos primeiros robôs e um exemplo de uma área que hoje denominados de Vida Artificial, pois era a primeira vez que um ser mecânico exibia propriedades típicas de seres vivos, como comportamento e auto-organização.
Assim, foi natural que Walter tivesse obtido uma tremenda atenção por parte da imprensa, causando enormes discussões e interesse. Walter recebeu muitos pedidos de pessoas que queriam adotar Elsie e Elmer, como bichinhos de estimação, e ele mesmo conta que desenvolveu uma certa afeição pelos "animaizinhos", que pareciam ter personalidade própria.
O tipo de robô autônomo criado por W. Grey Walter teve seus sucessores modernos também, como veremos a seguir. O robô marciano Sojourner I, é um deles. Existem até mesmo "robôs pessoais" que podem ser adquiridos, como o Cye, que segue a mesma filosofia geral de Elsie e Elmer.
Como veremos adiante, tem muita gente que pensa que robô é gente... Mas antes vamos examinar de perto essa formidável invenção humana e o potencial que oferece para substituir o trabalho e a inteligência através de máquinas.