O Uso da Cocaína Causa Lesões Cerebrais
Silvia Helena Cardoso, PhD
Renato M.E. Sabbatini, PhD
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A cocaína pode exercer uma variedade de efeitos no cérebro. Os maiores efeitos agudos resultam de níveis aumentados de substâncias naturais circulantes no sangue, chamadas catecolaminas.
Recentemente,
cientistas investigaram os efeitos euforizantes da cocaína através
de estudos de imagens cerebrais utilizando a tomografia PET (Positron
Emission Tomography), um sofisticado método que permite visualizar
a função dos neurônios através do seu metabolismo,
usando substâncias radioativas. O trabalho foi publicado na revista
Nature (1).
Eles descobriram que a cocaína ocupa ou bloqueia os "sítios transportadores de dopamina" nas células cerebrais. A dopamina é uma substância sintetizada pelas células nervosas que age em certas regiões do cérebro promovendo, entre outros efeitos, a motivação. Os "sítios transportadores de dopamina" levam a dopamina de volta para dentro de certos neurônios, após ela ter dado uma "passeada" pelo cérebro promovendo seus efeitos. Ora, se a cocaina ocupar o mecanismo de transporte da dopamina, esta substância fica "solta" no cérebro até que a cocaína saia, e é justamente a presença anormalmente longa dela no cérebro é que causa os efeitos eufóricos associados com o uso da cocaína. Clique aqui para ver as imagens do PET, comparando um paciente não-adito, como dois aditos à cocaína.
Tanto a dopamina como outras substâncias aumentadas
no cérebro podem produzir vasoconstrição e causar
lesões. Estas lesões podem incluir hemorragias agudas e infarto
no cérebro (zona de morte celular, causada por falta de oxigênio),
bem como necrose do miocárdio, podendo levar à morte súbita.
Grávidas que usam cocaína podem afetar seus fetos, levando-os ao nascimento com baixo peso ou risco de rompimento da placenta e até lesões irreversíveis do cérebro, causando deficiências mentais e físicas. Em muitos países, os "bebês da cocaína" são um sério problema de saúde pública, que está se agravando com a ampla disponibilidade do "crack". |
Em vermelho, sítios transportadores de dopamina. O PET so mostra os sítios não ocupados pelas drogas. |
Outro estudo de PET, feito por cientistas da Johns Hopkins University e o National Institute on Drug Abuse (NIDA) nos EUA, descobriu que o vício pela cocaína está diretamente correlacionado a um aumento no cérebro dos receptores para substâncias opióides, como as endorfinas, que são naturais, e drogas de abuso, como a heroína e o ópio [2]. Quanto maior a intensidade do vício, maior esse número de receptores.
Quando os viciados em cocaína que foram testados na pesquisa ficavam um mês longe da droga, em alguns deles o número de receptores voltava ao normal, mas em outros continuava alto. Pode haver uma correlação entre esse fato e a susceptibilidade do drogadito voltar ao vício ou não.
Veja
também: Animações gráficas mostrando
os efeitos da cocaína no cérebro.
2. Nature Medicine, vol. 2, no. 11, November 1996.
Silvia Helena Cardoso e Renato M.E. Sabbatini são doutorados na área de neurociências pela Universidade de São Paulo, e pesquisadores do Núcleo de Informática Biomédica da Universidade Estadual de Campinas. Editam também a revista on-line de divulgação científica, Cérebro & Mente.
Revista Cérebro
& Mente 3(8), jan/mar 1999
Uma Realização do Núcleo
de Informática Biomédica
Copyright (c) 1998 Universidade Estadual de Campinas, Brasil
Publicado em 18/Jan/1998
URL: http://www.epub.org.br/cm/n08/doencas/drugs/anim1.htm
sabbatin@nib.unicamp.br