Estresse em Mulheres

Cyro Masci é médico psiquiatra em Santo André, membro da American Academy of Experts in Traumatic Stress.
 

Mulheres quando em situação de estresse reagem de modo diferente dos homens. E alguns estudos sobre o comportamento dos hormônios e do funcionamento do cérebro de homens e mulheres em situação de estresse pode auxiliar melhor a compreensão dessas diferenças.

Homens classicamente reagem adotando uma atitude de luta ou fuga. Em síntese, os milhares de anos de evolução biológica colocam todo o organismo masculino em prontidão para atacar ou sair correndo de qualquer perigo. Durante muito tempo inferiu-se que as mulheres também reagiam assim, mas o que os pesquisadores perceberam é que essa não é a verdade.

Quando mulheres encontram-se sob pressão, tendem a adotar uma atitude de “proteção e amparo”, resultado dos milhares de anos em que tiveram que cuidar dos filhos, protegendo e amparando das ameaças de todos os tipos.
Assim, enquanto os homens desenvolveram as características de agressividade e combatividade, as mulheres desenvolveram as características de amparo e proteção. Isso é naturalmente uma tendência, sempre existirão homens que não são tão agressivos, assim como mulheres literalmente guerreiras, mas de modo geral a reação é diferente. Pode parecer o óbvio, mas poucos estudos até o momento foram conduzidos para averiguar especificamente a reação das mulheres frente a situações estressantes.

A situação se explica pela dificuldade em isolar os fatores hormonais femininos nos estudos. Como as mulheres sofrem de variação de humor mensalmente, acompanhando o ciclo menstrual, a maioria absoluta dos pesquisadores optou pelo caminho mais fácil de excluir as mulheres dos estudos.
O que parece diferenciar a reação masculina da feminina é a presença do hormônio occitocina, que é secretado sempre que homens ou mulheres se encontram em situações difíceis. As mulheres possuem níveis bem mais elevados desse hormônio, que é responsável pela redução dos sentimentos de depressão e ansiedade, ao mesmo tempo em que promove um comportamento de maior contato social e de calma.

Os efeitos calmantes da occitocina podem ajudar a explicar o porque as mulheres vivem em média mais que os homens. Diante de uma dificuldade, por ação desse hormônio, as mulheres tendem a contemporizar, a procurar uma solução pacífica, enquanto os homens diante da mesma hipótese enxergam um desafio e se preparam para uma verdadeira guerra!
Talvez a presença em maiores quantidades desse hormônio ajude a entender a facilidade com que mulheres procuram ajuda em situações de dificuldade, seja procurando terapia emocional quando acreditam necessitar de auxílio, seja simplesmente parando o carro e perguntando o caminho correto quando se encontram perdidas, uma atitude sabidamente difícil para a maioria dos homens.

Enquanto os homens foram moldados e selecionados biologicamente para lutar, caçar, guerrear e resolver problemas, as mulheres por milhares de anos tiveram o papel de guardiãs das crianças e defensoras da paz. É extraordinariamente recente a inclusão das mulheres no universo do trabalho, da competição, da agressividade empresarial. É só pararmos para pensar nos papeis femininos e masculinos de 40 ou 60 anos atrás que vamos verificar essa realidade. O homem era o provedor e a mulher a protetora.

Em algumas sociedades primitivas, como na Africa ou no interior da Austrália, ainda encontramos sociedades montadas sobre essa base, mas de modo geral, no mundo todo, a realidade mudou. As mulheres foram bruscamente inseridas num universo até então masculino.

Adaptar-se a essa nova realidade foi e é extraordinariamente estressante. Por exemplo, quando em dificuldades, homens tendem a se recolher, economizar energia e bolar uma solução, o que inclui fechar o bico e permanecer em silêncio. Seus antepassados caçadores pré-históricos aprenderam a duras penas o custo de gastar energia sem necessidade absoluta. Já as mulheres não tiveram essa necessidade, o que explica parcialmente o fato das mulheres serem no geral bem menos diretas ao se comunicar que os homens. E de não economizarem o verbo. Uma mulher usa algo entre 6000 a 8000 palavras por dia, enquanto um homem se contenta com 2000 a 4000 no mesmo período.

Homens realmente sabem como economizar suas energias. O cérebro masculino em repouso tem apenas 30 % de sua atividade habitual. Já as mulheres tem sua atividade elétrica reduzida em apenas 10 %, não parando de receber e processar informações. Basta olharmos novamente nosso processo de evolução biológica para lembrarmos que as mulheres tinham que estar bem alertas para observar suas crias, o que explica o porque os cérebros femininos praticamente não desligam.
Enquanto as mulheres, de modo geral, conseguem clara vantagem ao manter a calma em situações estressantes, os homens habitualmente conseguem se desligar dos problemas com mais facilidade Está na hora de aprendermos uns com os outros.