Renato M.E. Sabbatini,
PhD
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Os tamanhos dos cérebros podem ser estimados a partir do volume interno de crânios fósseis. Quando uma fórmula corretiva para o tamanho do corpo é usada, o tamanho médio cerebral é um bom indicador de inteligência relativa.
A cérebro
cérebro/corpo média
dos primatas não humanos está acima dos vertebrados como
um todo. A relação cérebro/corpo do gênero Homo
comparada àquela de primatas não humanos é ainda maior.
O gráfico abaixo mostra que as relações cérebro/corpo
de todos os primatas estão acima da linha de regressão (em
cor magenta). Os macacos do Novo Mundo, como os sagüis, são
muito menos inteligentes que os macacos do Velho Mundo, tais como
macacos
e babuínos. Chimpanzés, orangotango, gorilas e os primeiros
hominídeos (Australopithecus afarensis) tinham
aproximadamente
a mesma relação cérebro/corpo. Homo ergaster
e Homo sapiens lideravam o grupo de hominídeos
quanto a este
aspecto.
A evolução do tamanho do cérebro dos hominídeos e do Homo foi espetacular. Em um período de 3.5 milhões de anos ele aumentou cerca de quatro vezes, seguindo uma curva exponencial. A tendência pode ser vista no gráfico abaixo, de McHenry (1994), que coloca o tamanho dos cérebros em função do tempo e que mostra uma tendência geral ao tamanho do cérebro para as espécies de hominídeos e Homo.
Como podemos ver, os Australopitecos, que apareceram 3.5 a 3 milhões de anos atrás, tinham um cérebro três a quatro vezes maior que os humanos modernos (em média, 450 cc versus 1.350 cc). Então, parece que eles eram apenas ligieramente mais inteligentes que os antropóides, embora provavelmente eles já usassem ferramentas grosseiras, tivessem a postura ereta e andassem sobre as duas pernas. Isto foi provado pela descoberta de pegadas fósseis deixadas pelos Australopithecus afarensis, bem como pela análise de seus esqueletos.
Em seguida, um novo aumento grande no tamanho do cérebro ocorreu cerca de 2 a 1.5 milhão de anos atrás quando apareceu o Homo habilis, que passou de 650 para 800 cc. Esta espécie foi sucedida pelo Homo erectus, que viveu entre 1,6 milhão e 300,000 anos atrás e tinha uma capacidade craniana de 850 a 1000 cc. Portanto, de forma diferente das linhas que o precederam, o H. erectus é considerado ter sido não só apenas parecido com seres humanos, mas humano propriamente. Evidência do tamanho crescente do cérebro e a habilidade do Homo erectus em andar de pé é convincente o suficiente para colocar essa espécie imediatamente antes do Homo sapiens, mas após o Homo habilis na cadeia evolucionária. Seus cérebros ficaram relativamente estáveis por um longo período no assim chamado "periodo de estase". Portanto, de 600,000 a 150,000 anos atrás, o cérebro do Homo aumentou rapidamente novamente, chegando a 1200 a 1350 cc (Homo sapiens). Os cérebros dos Neandertais eram maiores que os do homem moderno (em média 1500 cc), mas pode ser argumentado que isto é resultado de uma massa corporal maior.
Outro indicador de inteligência é a área total e o grau de complexidade do córtex cerebral. Pode ser estimado a partir de impressões deixadas pelas convoluções corticais na superfície interna do crânio ("endocasts"). O Homo habilis tinha um tamanho de cérebro muito maior que o dos australopitecos. Alguns estudos do "endocasts" de crânios do H.habilis indicam que a região frontal do córtex, que é essencial para a fala (área de Broca), provavelmente já era desenvolvida nesta espécie, de modo que talvez existisse alguma forma de comunicação grosseira com base na linguagem baseada em articulações vocais. Em média, os australopitecos eram apenas um pouco mais inteligentes que os chimpanzés modernos. De certa forma, eles eram pouco mais que macacos que andavam em pé. O Homo habilis e erectus eram provavelmente intermediários em inteligência entre chimpanzees e humanos modernos.
Como apareceram os primeiros hominídeos?
Os homens-macacos Australopitecinos provavelmente evoluiram a partir de uma das 20 espécies destimadas de antropóides que viviam em florestas no Leste da África há 10 milhões de anos, como resultado de mudanças climáticas e geológicas drásticas no final do Mioceno, que foi marcado por uma longa seca na África equatorial. As florestas existentes no Mioceno diminuiram consideravelmente de tamanho e desenvolveu-se a savana, levando à extinção de muitas espécies e dando origem a outras, tornando-se o habitat de muitos animais africanos modernos.
A ausência de grandes árvores e florestas forçou a evolução da chamada "bipedalidade habitual" em um ou mais desses antropóides, muito antes de que eles desenvolvessem linguagem ou outras características dos hominideos. A espécie mais antiga conhecida de hominídeo, o Australopithecus anamensis, datado de mais de 4 milhões de anos, tinha ossos parecidos com o de seres humanos nas pernas e pélvis, adaptados para a postura ereta e locomoção bipedal, embora seus crânios, mandíbulas e dentes fossem ainda de macacos. De qualquer modo, esses primeiros hominídeos ainda não eram propriamente humanos, como vimos, pois eles não mostravam a expansão cefálica e nem a morfologia dentária que caracterizaria os hominídeos mais avançados, como Homo habilis.
Muitos cientistas acreditam que a "caça oportunísticas" na savana africana, ou veld, foi o fator mais importante do desenvolvimento da bipedalidade humana. E qual a razão? É por que, ao explorar a savana, os proto-hominídeos encontravam fontes de alimento na forma de animais mortos por predadores, assim como animais muito jovens ou doentes, que eles capturavam. De modo a levar essa comida de volta para seus locais de habitação e famílias, era necessário dispor de mãos livres e uma locomoção ereta por longas distâncias, pois eles não tinham mandíbulas e dentes fortes como os leões e as hienas. Esta hipótese, primeiramente formulada por Owen Lovejoy, explica também como levar comida e compartilhá-la com o grupo social eventualmente levou ao desenvolvimento do núcleo familiar, e ao desenvolvimento de diferentes papéis para homens e mulheres (dimorfismo sexual e comportamental), que é tão importante para nossa biologia reprodutiva. Isso permitiu que as fêmeas da espécie procriassem mais vezes e tivessem um número muito maior de filhos que os chimpanzés, levando a uma rápida expansão da população. Marcas de ferramentas achadas em ossos de animais encontrados próximos dos fósseis hominídeos indicam que o H. habilis comia carne. Não sabemos se ele tinha a capacidade de caça em grupo, mas como os chimpanzés têm alguma forma de caçar animais para se alimentar, é possível que eles também o fizessem.
Renato M.E. Sabbatini, PhD Revista Cérebro & Mente, Fevereiro/Abril 2001 |
Copyright
(c) 2001 Renato
M.E. Sabbatini
Universidade
Estadual de
Campinas, Brasil
Publicado
pela primeira
vez em 15/Fev/2001
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