A Evolução da Inteligência

Parte 2: Inteligência em Primatas Não Humanos

Renato M.E. Sabbatini, PhD
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Estudar a evolução da inteligência humana imediatamente nos faz lembrar de estudos similares dos nossos parentes, nossos "primos", os macacos. Sem dúvida nenhuma, eles têm alguma forma de inteligência, e diversos estudos comparativos tem jogado uma importante luz sobre o entendimento de nossa própria inteligência.

Existem apenas cinco espécies vivas da ordem dos macacos pongídeos, também conhecidas como antropóides (significa similares ao homem), dos quais os crânios de três estão representados abaixo: o chimpanzé, o bonobo (muito similar aos chimpanzés, mas recentemente considerado uma única espécie), o gorila, o gibão (incluindo o siamang) e o orangotango. Com exceção do orangotango, todas as outras espécies estão distribuídas em regiões da floresta da África. O orangotango e gibão vivem nas florestas chuvosas da ilha de Java, Sumatra, etc.

Como podemos ver aqui, seus crânios e cérebros são anatomicamente muito similares: órbitas oculares grandes situadas no mesmo plano frontal, cristas ósseas frontais e/ou laterais no crânio, fossas nasais triangulares grandes, mandíbula superior avançada, maxila pesada e dentes fortes com caninos grandes.
 

Chimpanzë
(Pan troglodytes)

Gorila
(Gorilla gorilla)

Orangotango
(Pongo pygmaeus)

A capacidade interna do crânio é grande e seus cérebros são altamente evoluídos e complexos, sendo apenas inferiores aos do homem moderno. Chimpanzés e gorilas têm um tamanho cerebral médio de 400 a 500 cm3, respectivamente. Em conseqüência, os antropóides são muito inteligentes e capazes de manipulação simbólica similar à linguagem, capacidade de resolução de problemas, comportamentos altamente complexos, aprendizagem, emoções, etc.
 
Um jovem chimpanzé usa duas pedras para quebrar cascas de nozes

A Dra. Savage-Rumbaugh ensinando linguagem simbólica a um macaco usando blocos de imagens.

Por exemplo, o uso de ferramentas para muitos tipos de tarefas tem sido bem documentado entre os antropóides, incluindo o uso de pequenos ramos, pedras, galhos, cordas, ganchos, etc. Entretanto, eles nunca foram observados inventando ou construindo ferramentas (embora pelo menos um biólogo ousado tenha ensinado um chimpanzé a fabricar ferramentas de pedra como um ser humano pré-histórico). De todos os primatas superiores, apenas os seres humanos e os chimpanzés caçam e comem carne em bases regulares. Da mesma forma, muitos grupos de pesquisa foram capazes de demonstrar que os antropóides são capazes de aprender linguagem simbólica para se comunicar entre eles e com os humanos.

Os antropóides estão intimamente relacionados aos seres humanos em termos de evolução. Eles foram separados de nós cerca de 36 milhões de anos atrás, a partir de um ancestral comum que ainda não foi encontrado. Portanto, eles podem ser considerados um ramo paralelo da árvore evolutiva dos seres humanos. Os antropóides extintos que são os mais antigos que os primeiros hominídeos, tais como o Ramapithecus ardinus (5 a 6 milhões de anos atrás) não são considerados hominídeos. Estudos de biologia molecular mostraram que o Ramapithecus era mais similar aos orangotangos.

As seqüências de DNA dos grandes antropóides são 96,4% similar àqueles dos humanos. Em outras palavras, todas as nossas diferenças com relação ao cérebro, inteligência, destreza manual, linguagem simbólica, etc, são codificadas em somente 3,6% de todos os genes que constituem nossos genomas.
 


"A Evolução da Inteligência"
Renato M.E. Sabbatini, PhD
Revista Cérebro & Mente, Fevereiro/Abril 2001

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Copyright (c) 2001 Renato M.E. Sabbatini
Universidade Estadual de Campinas, Brasil
Publicado pela primeira vez em 15/Fev/2001
Atualizado em 18 de setembro de 2011
URL desta página: http://www.cerebromente.org.br/n12/mente/evolution02_p.html