Demência de Alzheimer
Luciana Christante de Mello






O que é?

É uma doença degenerativa do cérebro descrita pela primeira vez em 1910 pelo médico alemão Alois Alzheimer.

As demências se caracterizam, de maneira geral, por distúrbios de memória associados a comprometimentos do raciocínio lógico, da orientação espacial, da afetividade, da linguagem e de outras funções cognitivas. Todos esses distúrbios estão presentes na Demência de Alzheimer, mas o que caracteriza essa síndrome em particular, são as alterações anatômicas que ocorrem no cérebro do paciente. Há uma atrofia do tecido cerebral e diminuição da massa encefálica. Essas alterações, entretanto, não surgem de repente, mas vão progredindo aos poucos, acometendo pessoas idosas a partir 60 anos.

Segundo a Associação Internacional para Doença de Alzheimer (que congrega 50 associações de diversos países), há aproximadamente 18 milhões de pessoas que sofrem de demência no mundo; destes, estima-se que um terço dos casos (mais ou menos 12 milhões) sejam de Demência de Alzheimer. A prevalência nos países desenvolvidos é de 3% entre as pessoas acima dos 60 anos e embora não existam dados sobre os países em desenvolvimento, estima-se que a prevalência seja a mesma. Diversas entidades vem promovendo a divulgação e conscientização, bem como estimulando novas pesquisas sobre a doença, tendo em vista o preocupante aumento da população idosa no mundo, que está sendo mais acentuado nos países em desenvolvimento.
 

Mistério da Mente

A Demência de Alzheimer é um grande desafio para os neurologistas e para a vasta gama de pesquisadores que investigam a doença. Apesar de ter sido descrita no início do século XX, chegamos ao terceiro milênio sem que haja alguma forma de prevenção, algum tratamento efetivo e muito menos a cura. Apesar do quadro pouco otimista, muito tem sido feito no que se refere às técnicas de cuidado ao paciente, do suporte psicológico aos familiares e às intervenções sociais, no sentido de se melhorar a qualidade de vida do paciente e dos seus familiares.
 

O que já se sabe?

Alguns aspectos da Demência de Alzheimer são conhecidos, embora não sejam totalmente compreendidos. A herança familiar é um deles. Sabe-se que há um risco maior de desenvolver a doença caso o paciente tenha algum parente ou irmão afetado, mas este risco é apenas um pouco maior do que o de uma pessoa sem familiares afetados. A concordância entre gêmeos (univitelinos e fraternos) está por volta dos 40%, indicando que podem haver outras origens não genéticas ou ainda um tipo de herança mais complexa. Contudo, um dado é muito relevante e intriga os cientistas: pacientes com Síndrome de Down (uma anormalidade do cromossomo 21) apresentam um risco muito aumentado para a Demência de Alzheimer quando estes ultrapassam os 35 anos de idade. A Síndrome de Down tem uma padrão de herança exaustivamente conhecido, e isso lança algumas luzes sobre a origem do mal de Alzheimer; diversas pesquisas vem investigando a relação entre as duas doenças e as anormalidades cromossômicas.

Embora não exista nenhum tratamento definitivo, o diagnóstico está sendo feito cada vez mais cedo e medicamentos podem ser indicados para aliviar os sintomas. O diagnóstico precoce e a melhoria no cuidado aos pacientes vem aumentando a sobrevida das pessoas afetadas. Atualmente, os pacientes estão vivendo, em média, de 6 a 8 anos depois de diagnosticados. Diferenças entre homens e mulheres, tanto no tempo de sobrevida quanto na prevalência, parecem não existir nesse caso dessa doença.
 
 

A Evolução da Doença

Como já foi mencionado, a Demência de Alzheimer é uma doença progressiva e as primeiras manisfestações dos sintomas costumam aparecer com mais frequência a partir dos 60 anos, embora em alguns poucos casos possam se manifestar antes. A princípio o sintoma mais evidente é a deterioração intelectual. Não há casos de remissão dos sintomas e períodos de platô são extremamente raros. Em outras palavras, uma vez manisfestados os primeiros sintomas, o curso da doença é progressivo e contínuo em todos os pacientes. A evolução clínica da doença pode ser dividida em três estágios:

Estágio I (os 3 primeiros anos):

O paciente pode se sentir 'perdido' no ambiente familiar e embora consiga desempenhar bem as tarefas rotineiras, há dificuldades para lidar com novos desafios. Indiferença, irritabilidade ou desconfiança por vezes estão presentes entre os primeiros sintomas. No primeiro estágio da doença, não há alterações significativas do ponto de vista neurológico, a não ser um leve hipometabolismo em uma área específica do cérebro (lobos parietais posteriores).
 

Estágio II (dos 2 aos 10 anos)

Incontinência urinária pode ocorrer ocasionalmente. O paciente se torna cada vez mais indiferente a tudo que o rodeia. Neste estágio, as alterações neurológicas são mais evidentes, o padrão eletroencéfalográfico (EEG) se altera, os ventrículos cerebrais começam a se dilatar e os sulcos se alargam. Um metabolismo abaixo do normal é observável nas regiões parietais posteriores e também na região frontal do cérebro.
 

Estágio III (dos 8 aos 12 anos)

Neste último estágio a dilatação dos ventrículos e o alargamento dos sulcos são mais evidentes, assim como o hipometabolismo nas áreas parietais e frontais do cérebro do paciente.
 

Outros distúrbios menos severos estão presentes na evolução da doença, tais como:

Os pacientes frequentemente falecem por pneumonia, infecções urinárias ou algum outro problema decorrente de sua saúde deteriorada. O tempo de vida após o diagnóstico, como já foi mencionado, é em média de 6 a 8 anos, muito embora possa variar de 2 a 20 anos. Os pacientes que manifestam a doença com mais idade, frequentemente morrem por outros motivos (como infarto), antes que os estágios finais sejam alcançados.
 

O Tratamento
 

O tratamento da Demência de Alzheimer é baseado nos sintomas que o paciente apresenta. A depressão, irritabilidade e agitação podem ser aliviados através de medicamentos psquiátricos.
O ambiente em que vive o paciente pode tanto aliviar quanto piorar seu quadro clínico. Uma série de modificações no ambiente doméstico são necessárias para se lidar com a pessoa afetada. A conscientização e colaboração dos membros da família é fundamental e frequentemente, sobretudo nos estágios finais, a assistência de um profissional é importante. Muitos familiares experimentam uma grande ansiedade e um profundo sofrimento ao verem seus entes queridos cada vez mais alheios, dependentes e incapazes. Estudos revelam que esses familiares (geralmente filhas e filhos, maridos e esposas) sofrem de estresse crônico e têm um risco aumentado para depressão. Nesse sentido, conforme a doença evolui e os cuidados aumentam, o trabalho de um profissional treinado (enfermeiros) pode melhorar não só a vida do paciente mas também de toda a família. A internação é recomendada apenas nos estágios finais da doença, em virtude do grande estresse familiar e da necessidade de cuidados intensivos.
 
 

A Busca pela Cura

Para se chegar à cura da Demência de Alzheimer, os cientistas primeiramente terão que conhecer melhor as origens da doença. Apesar de haver muitas pistas, faltam resultados conclusivos; contudo, o ritmo da pesquisas em Alzheimer é acelerado. Existem pelo menos cinco diferentes teorias que vem sendo investigadas e que até o presente momento não podem ser aceitas ou rejeitadas definitivamente. São elas:

Teorias Químicas: envolveriam a participação dos fatores de crescimento neuronal, da acetilcolina (um neurotransmissor) e de fatores tóxicos como o alumínio e mercúrio;

Teoria Genética: envolveria a participação de genes localizados nos cromossomos  14, 19 e 21.

Teoria Auto-imune: envolveria a produção de anticorpos que teriam efeito deletério sobre o cérebro.

Teoria da Infecção Viral: envolveria uma possível infecção viral em alguma etapa da vida.

Teoria Vascular Cerebral: envolveria uma diminuição do fluxo sanguíneo cerebral resultante de alterações nas artérias do cérebro.