Você sabia que sempre que aprende algo ou vivencia uma nova experiência suas células cerebrais se modificam e que essa modificação se refletirá em seu comportamento?
Por exemplo, se ao caminhar, à noite, por uma determinada rua, perceber pessoas que parecem bandidos, você evitará passar por essa rua novamente. Ou ainda, se uma criança receber um choque elétrico ao enfiar o dedo em uma tomada, ela nunca repetirá esse comportamento. Nesses exemplos o comportamento foi modificado como resultado de uma experiência.
Os neurônios no
córtex cerebral, as camadas externas dos hemisférios cerebrais,
é responsável pelo processamento cognitivo. Ele exibe uma
quantidade impressionante de plasticidade, e cada parte da célula
nervosa do soma à sinapse altera suas dimensões em resposta
ao ambiente.
O cérebro do homem, cortado em uma fatia, apresenta uma camada externa de cor cinzenta (formada em sua maior parte por corpos celulares), chamada córtex cerebral. O córtex cobre inteiramente os dois hemisférios. Um corte em profundidade no cérebro mostra que a superfície cinzenta tem uma espessura que varia de 1 a 4 mm. A maior parte é composta por células nervosas (neurônios) que recebem impulsos dos pontos mais distantes do corpo e os retransmitem ao destino certo. Mas o cérebro desempenha funções altamente diversificadas e, por isso mesmo, as células que os constituem, também são especializadas. Tipos diferentes de neurônios são distribuídos através de diferentes camadas no córtex dispostos de tal forma a caratcerizar as várias áreas dos hemisférios, cada qual com sua função. As camadas específicas são constituídas por agrupamentos de neurônios de vários tipos, entre eles, as células piramidais, com sua forma característica. |
Cada
neurônio contribui para o comportamento e para todos as atividades
mentais, produzindo ou não impulsos elétricos.
O que é que cresce? Os dendritos das células nervosas são responsáveis pela maior parte do crescimento neocortical e a rede neural que eles formam constitui a base física ou o "hardware" da inteligência (1). Os dendritos são extensões da membrana das células nervosas que recebem "sinais de entrada" de outras células nervosas. Suas ramificações são muito reativas a tais sinais, aumentando em função do uso e diminuindo no desuso. A expressão "use-o ou perca-o" encaixa-se como uma luva a esse processo. Na área do cérebro, chamada de Wernicke, que trata da compreensão de palavras, as células nervosas possuem mais dendritos nas pessoas de nível de educação superior comparadas às pessoas que têm apenas estudos secundários. Aumentos no crescimento cortical como conseqüência de sinais de entradas provenientes de um ambiente estimulador foram demonstrados em todas as idades, inclusive na terceira idade avançada. Porém as maiores mudanças -- um aumento de até 16 porcento -- foram observadas quando o córtex cerebral está crescendo rapidamente, durante os dez primeiros anos de vida. Ao expor as crianças às experiências desafiadoras através de ambientes e educação enriquecedores , esses dendritos estarão inevitavelmente aptos a agir no futuro! (1).
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Visto que não existem dois cérebros humanos idênticos, nenhum ambiente enriquecedor satisfará todos os aprendizes por um período de tempo longo. A gama de ambientes enriquecedores para os seres humanos é interminável. Para alguns, a interação física com os objetos é gratificante; para outros, a busca e o processamento de informação é recompensador; para outros, trabalhar com idéias criativas é o mais agradável. Não importa qual a forma da atividade enriquecedora, o que conta é o desafio às células nervosas. Os dados indicam que a observação passiva não é suficiente; é preciso interagir com o ambiente (1). Uma maneira de garantir um enriquecimento contínuo é estimulando e mantendo a curiosidade por toda a vida.
As alterações celulares resultantes do aprendizado e memória são chamadas de plasticidade. Isso está relacionado à alterações na eficiência das sinapses que podem aumentar a transmissão dos impulsos nervosos, modulando assim o comportamento.
Uma experiência pode ser vivenciada através da aprendizagem ativa, ou vivendo-se em um ambiente enriquecedor que inclua outros indivíduos, cores, música, sons, livros, cheiros, etc.
Também foi possível demonstrar em experiências científicas que o cérebro do rato apresenta um maior número de células cerebrais interconectadas umas as outras quando os ratos vivem em uma gaiola cheia de brinquedos tais como gangorra, bolas, rodas etc. do que aqueles que vivem sozinhos ou sem nada para fazer ou aprender.
Donald Hebb, de Montreal, Canadá e Jersey Konorski, da Polônia, dentre os maiores especialistas do fenômeno de aprendizagem e memória nos anos 1940, foram os primeiros a acreditar que a memória deveria involver mudanças ou incrementos nos circuitos nervosos.
Os circuitos nervosos são conjuntos de células cerebrais (ou neurônios) que se comunicam entre si através de junções chamadas de sinapse.
Quando
uma célula é ativada, substâncias químicas,
chamadas de neurotransmissores, são liberadas entre as sinapses,
tornando-as ainda mais eficazes. Pesquisas têm demonstrado
que os neurônios mais "exercitados"apresentam um número muito
maior de ramificações dendríticas com os dendritos
de outros neurônios. Assim, para que a memória aconteça,
é necessário que as células nervosas formem novas
interconexões e produzam novas moléculas de proteínas.
Referência
1.
Marian Cleeves Diamond - The Brain. Use It or Lose It - Mindshift Connection
(vol. 1, no.1), Dee Dickinson (ed.). Zephyr Press publication.
Silvia Helena Cardoso, PhD. Psicobióloga, mestre e doutora em Ciências. Fundadora e editora-chefe da revista Cérebro & Mente. Universidade Estadual de Campinas. |
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