Os "Lobisomens"
Silvia
Helena Cardoso, PhD
De vez em quando tomamos conhecimento de que "homens-lobisomens" apareceram em circos ou shows sensacionalistas de entretenimento. Estas criaturas são descritas como seres humanos como nós, mas geralmente com pelos em excesso por todo o corpo.
Na verdade, estes seres humanos não deveriam ser comparados como figuras mitológicas como o lobisomen, e sim com os nossos antepassados naturais: o macaco.
Existem
alguns casos raros na literatura medica humana que podem ser interpretados
como ATAVISMOS,
ou seja, o reaparecimento de orgãos
dos nossos antepassados, no qual caracteristicas morfológicas
já perdidas pelo ser humano
ao longo de sua evolução desde o antepassado primata comum,
reaparecem em sua expressão. É o caso de glândulas
mamárias supranumerárias, com os mamilos em forma de "V",
semelhante a de mamíferos anteriores aos primatas, de caudas na
região sacral, e de padrões de cobertura de pelo em toda
a face ou corpo, semelhante a de chimpanzés (veja acima o caso de
uma criança chinesa, que nasceu com o corpo quase que totalmente
recoberto de um espesso pelo e de um homem com rabo e de outro com diversos
mamilos.
No entanto, o atavismo genético nao é aceito por muitos cientistas, que concordam que o tema é polêmico. O que é interpretado como o atavismo, argumentam eles, muitas vezes é apenas um exemplo de desenvolvimento embrionário anormal, ou de uma doença rara. O fato do resultado fenotípico ser parecido com características morfológicas de primatas ou outros mamiferos na escala evolutiva não significa necessariamente que um gene "oculto" em nosso genoma tenha sido desreprimido. Seria preciso comprovar isso em nível molecular.
Outro motivo para a teoria do atavismo não ser bem aceita é que no passado ela foi utilizada para fins de discriminação racial pelos europeus. O médico Cesare Lombroso, no século passado, criou toda uma "teoria" sem comprovação científica, que os criminosos e os "povos inferiores" seriam facilmente identificados pela existância de "atavismos" em suas estruturas corporais, tais como testa e arcada frontal muito proeminentes, mandíbula muito grande e prognática, braços muito longos, pelo corporal excessivo, etc. Partia-se do princípio que as pessoas com atavismos eram marcadas geneticamente para serem criminosos, inferiores, com más características morais, etc. Teorias como essas foram abertamente utilizadas pelos impérios coloniais, nazistas, etc., para justificar a dominação sobre outros povos.
Fonte: "Evolution: Zufall oder Sinn ?".
Bild der Wissenschaft, 4: 114-126, 1979.