EXISTE UM MODELO QUÂNTICO
ENVOLVIDO NA FORMAÇÃO DA CONSCIÊNCIA ?

Não há, até o momento, nenhuma explicação, plenamente satisfatória, para o mecanismo de formação da consciência. O modelo do computador, conquanto talvez válido para explicar a memória, revelou-se insatisfatório em relação à consciência, posto que a máquina, além de não criar nem "sentir", não atende a outros requisitos necessários para explicar a característica unitária da consciência, a qual se expressa pela fusão, durante um período variável de tempo, de todas as nossas percepções, pensamentos e emoções.

Sem essa unidade, sem essa fusão, a pessoa não experimenta, à medida que "vivencia" as múltiplas experiências do dia a dia, a sensação de individualidade, de ser um ser uno e indivisível. E é precisamente isso que a consciência representa : individualidade, subjetividade. O "eu", o "self". A teoria das assembléias neuronais representa, a nosso ver, a idéia mais coerente para a formulação de uma hipótese a respeito da formação da consciência. No desenvolvimento da hipótese, cabe indagar se existe um modelo ou sistema físico que explique a constituição dessas assembléias neuronais.

Apesar da complexidade do tema, dois sistemas foram identificados como possivelmente envolvidos no processo. Eles compõem uma sequência de eventos, suficientemente plausível para ser aceita pelo raciocínio lógico. Ambos alicerçados em princípios de mecânica quântica e capazes de atuar em tecidos biológicos. São eles : o condensado de Bose/Einstein e o efeito de Herbert Frohlich]. Como já foi visto, as assembléias são unidades funcionais, de caráter transitório, formadas por neurônios "cedidos" por unidades anatômicas, de caráter permanente (as colunas neurais).. Porém, como explicar essa "mobilização funcional " de neurônios ? Uma explicação satisfatória seria considerar que o processo se inicia pela ocorrência de um efeito Frohlich. Mas haverá um tal sistema, embutido em nossas estruturas cerebrais ?

Ao que tudo indica, sim. E é assim que ele se manifesta : Os disparos elétricos contínuos, que acontecem nas fronteiras entre os neurônios, sempre que o cérebro é ativado por algum estímulo, constituem a fonte de energia necessária para que, nas moléculas das membranas neuronais, ocorra emissão de fótons. E quando essa emissão atinge uma freqüência crítica, as moléculas das membranas de milhões de neurônios, passam a vibrar em uníssono, entrando numa fase condensada de Bose-Einstein.

Cria-se, assim, uma única identidade, pré-requisito fundamental para formação da consciência. Então os neurônios de múltiplas colunas "disparam", simultaneamente. Forma-se uma assembléia e, numa ínfima fração de tempo, a consciência "explode". Como conclusão da hipótese, podemos considerar que a consciência é uma propriedade emergente, a partir do 'disparo", em "uníssono", de um número incontável de neurônios, que se espalha, difusamente, através do cérebro, por um período de tempo variável, para, imediatamente depois de terminada, ser substituída por outra consciência, e depois por outra e, assim, sucessivamente.

Porém, a despeito de toda essa sequência de eventos, de tal forma estruturada que pode ser aceita pela lógica, um mistério persiste e não sabemos até quando persistirá. Não fosse o cérebro, como diz Restak, a última fronteira do conhecimento humano. Mas em que consiste esse mistério, essa ponte invisível entre a indetectável consciência e as detectáveis assembléias neuronais ?

Consiste no desconhecido mas preciso mecanismo, através do qual, num período de tempo infinitamente pequeno, a vibração da matéria super condensada, formada pelas moléculas dos neurônios, libera a energia que vai se expressar sob a forma de um abstrato pensamento consciente. O que se passa nessa ínfima fração de segundo é tão insondável quanto o que ocorre no instante inicial do big-bang, em que outra matéria, bilhões de vezes mais condensada, deu origem ao universo. E agora ? O que virá a seguir ?

De certo, temos ainda um longo caminho a percorrer para atingirmos um conhecimento mais pleno a respeito do assunto em pauta. Particularmente, temos de tentar entender o mencionado mistério : de que forma coisas intangíveis, como pensamento e consciência, são construidas à partir de elementos detectáveis e mensuráveis, como fases condensadas, atividade elétrica e neurotransmissores ? É possível, assim esperamos, que o "gap" entre o concreto e o abstrato possa vir a ser, um dia, preenchidos. Talvez quando a interrelação entre determinados fenômenos quânticos e biológicos for totalmente compreendida.

O caminho no sentido dessa compreensão tem sido trilhado por inúmeros investigadores. A jornada, de certo, é bastante longa. Mas parece que eles estão caminhando bem. Recentemente, um grupo de físicos israelenses do Instituto Weizmann, dirigidos por Amiram Ginvald, trabalhando com contrastes sensíveis à voltagem elétrica, o que permite visualizar os neurônios se " acendendo" em larga escala, verificaram que mesmo um simples estímulo visual não provoca uma simples resposta cerebral, e sim uma que cresce, gradualmente, com o tempo, à medida que mais e mais neurônios vão sendo " recrutados". Como Greenfield havia previsto quando propôs a teoria das assembléias neuronais.

Grinvald vai além : "Equipados com instrumentos que permitem visualizar assembléias de neurônios, nós examinamos a organização da atividade de entrada (expontânea) e verificamos que mesmo nas áreas sensoriais primárias, a atividade expontânea de neurônios isolados está interligada temporalmente à atividade coerente de inúmeros neurônios espalhados por uma ampla região cortical." Seu colega Ad Aertsen, também do Instituto Weizmann, complementa : "Os neurônios são capazes de se associarem rapidamente, formando grupos (assembleias) funcionais, para realizarem uma tarefa computável. Uma vez que esta esteja terminada - o que pode ocorrer em uma fração de segundo - o grupo se dissolve e os neurônios estão novamente aptos a se engajarem em outras assembleias, para cumprirem uma nova tarefa." Outra equipe, esta da Universidade Hebraica de Tel-Aviv, liderada por Eilon Vaadia, confirmou os achados de seus colegas do Weizmann quando, ao levar a cabo o registro de diferentes partes da córtex de um macaco, verificou que grupos neurais podem se organizar para realizar tarefas específicas e, depois, se reorganizar para formar novos grupos a fim de executar novas funções.

Essas experiências devem ser encaradas com seriedade, haja visto a sua procedência. É fato conhecido que os cientistas israelenses teorizam bastante, mas também se reconhece o rigor com que levam a cabo suas experimentações. Aliás, na verdade, teorizar é criar hipóteses para serem testadas pelo método científico. O que é muito válido. Obviamente, mais experiências têm de ser realizadas, buscando dissipar dúvidas que ainda persistem sobre a teoria da Dra. Greenfield. De qualquer forma, os achados israelenses representam um passo significativo, ao demonstrar que algumas proposições teóricas, relacionadas com fenômenos abstratos, como consciência e percepção, podem ser confirmadas por métodos experimentais precisos e cientificamente confiáveis.

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