Psicocirurgia Hoje

 

Nos anos recentes, a adoção rápida de técnicas baseadas em computadores para planejamento cirúrgico e visualização e cirurgia guiada por imagens tornou possível vários avanços impressionantes em neurocirurgia funcional.

A tomografia de ressonância magnética (MRI) permite a aquisição de informação estrutural altamente detalhada sobre os tecidos moles do cérebro. Podem ser visualizadas alterações patológicas minuciosas, até mesmo antes de que elas possam ser descobertas através de outros meios. Atlas estereotáxicos baseado nesta informação alcançam uma precisão primorosa de localização dos eletrodos e sondas intracerebrais e permitem planejar a operação com resultados muito mais seguros.

As técnicas de imagens funcionais também são possíveis atualmente, utilizando-se marcadores metabólicos especiais e tomografia MRI associada à técnicas computadorizadas para o processo matemático e visualização das imagens. Deste modo, a avaliação não invasiva da função cerebral em epilepsia, doença de Parkinson e outras condições do cérebro pode ser feita com extraordinária precisão e sensibilidade.

Para facilitar a cirurgia guiada por imagens, há vários empresas que já oferecem pequeno sistemas de MRI para uso dentro da sala cirúrgica.

A técnica estereotáxica foi melhorada em precisão e sofisticação, e agora inclui endoscopia de laser, sistemas de direção dirigidos por computador, técnicas de visualização baseado em realidade virtual e até mesmo robôs cirúrgicos que têm uma precisão mais alta que a mão humana. Uma técnica nova chamada de estereotaxia sem aparelho, dispensa a armação metálica externa que era usada para localizar pontos internos no cérebro por meio de coordenadas, e, ao invés disso, emprega cálculos computadorizados baseados em marcos visíveis nas imagens de MRI.

Também é possível agora a cirurgia estereotáxica sem precisar abrir o crânio e sem sangue (nem sequer a cabeça do paciente precisa ser raspada) usando-se uma técnica revolucionária chamado radiocirurgia. A destruição de tecido nervoso ou vascular dentro do cérebro é alcançado projetando-se poderosas e finos feixes de radiação ionizante, que vem de vários ângulos ao redor da cabeça do paciente. Eles são produzidos através de aceleradores lineares, máquinas usadas em física de partículas de alta energia, ou por fontes de cobalto radioativo (o "bisturí gama", desenvolvido nos anos sessenta pelo neurocirurgião sueco Lars Leksell). Deste modo, a energia da radiação se concentra em um único e pequeno ponto dentro do cérebro, sendo poupados de dano os tecidos saudáveis vizinhos.

Apesar de todo esse impressionante progresso técnico, entretanto, a psicocirurgia é praticada cada vez menos. O problema não é tanto de natureza técnica; ou uma falta de conhecimento do que fazer. O problema é de natureza ética e política. A psicocirurgia nunca será executado em massa como nos velhos tempos da lobotomia, sem avaliação de indicação precisa. Há vários diretrizes e proteções que asseguram, em países democráticos pelo menos, que serão respeitadas os direitos dos cidadãos com respeito à possibilidade de sofrer cirurgia de cérebro para o tratamento de doenças mentais.



De: A História de Psicocirurgia
Autor: Renato M.E. Sabbatini, PhD,
Fonte: Revista "Cérebro & Mente", junho de 1997,


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