AVC e Neuroplasticidade
O
acidente vascular cerebral (AVC) é a doença neurológica
que mais freqüentemente acomete o sistema nervoso e é a principal
causa de incapacidades físicas e mentais. Ocorre devido a uma interrupção
do fluxo sangüíneo para o cérebro, que pode ser por
obstrução de uma artéria que o supre, caracterizando
o AVC isquêmico ou por ruptura
de um vaso AVC hemorrágico.
Os principais fatores relacionados à ocorrência dos AVCs são: hipertensão arterial, diabetes mellitus, doenças cardíacas, obesidade, sedentarismo e tabagismo.
As seqüelas dependem da localização
e do tamanho da área cerebral que foi atingida e do tempo que o
paciente levou para ser atendido ( melhor o prognóstico quanto mais
rápido for iniciada a recuperação), sendo as mais
comuns hemiparesia, alterações visuais, da fala e da memória.
As mudanças descritas na organização do córtex incluem o aumento dos dendritos, das sinapses e de fatores neurotróficos essenciais para a sobrevivência de células nervosas. Após ocorrer uma lesão, em algum lugar do córtex motor, mudanças de ativação em outra regiões motoras são observadas. Essas mudanças podem ocorrer em regiões homólogas do hemisfério não afetado, que assumem as funções perdidas, ou no córtex intacto adjacente a lesão. Graças a essas reorganizações corticais, que podem ter início de um a dois dias após o AVC e podem se prolongar por meses, os pacientes podem recuperar, pelo menos em parte, as habilidades que haviam sido perdidas.
A recuperação da função
nos membros ,promovida pela plasticidade, é dificultada por um fenômeno
conhecido como não-uso aprendido.
Com a perda da função de uma área do cérebro
atingida pelo AVC, a região do corpo que estava ligada a essa área
também é afetada, perdendo a sua capacidade de movimentação.
Como o paciente não consegue mover o membro mais afetado, compensa
usando o outro, deste modo, após um certo tempo, quando os efeitos
da lesão não estão mais presentes e ocorreram readaptações
no cérebro, os movimentos poderiam ser recuperados, no entanto,
o paciente já aprendeu que aquele membro não é mais
funcional.
A técnica consiste no uso forçado do braço afetado pela restrição do uso do braço não afetado (veja a figura abaixo). Durante um período de 10 a 15 dias, o paciente fica com o braço não afetado imobilizado, assim, as diversas atividades como comer, vestir-se, escrever, cozinhar são realizadas pelo braço afetado, havendo novamente estimulação do córtex danificado. O paciente faz nesse período treinamento fisioterápico por seis horas diárias, praticando tarefas repetitivas com o braço afetado. Por causa desse uso aumentado do braço afetado, a área do cérebro relacionada a este volta a ser estimulada, ocorre uma intensa reorganização cortical que aumenta a área de representação deste membro no córtex e melhora o funcionamento motor. Assim, a CI-therapy pode ser considerada efetiva no combate ao não-uso aprendido.
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Liepert, J., Miltner, W.H.R., Bauder, H., Sommer, M., Dettmers, C., Taub, E., Weiller, C. (1998). Motor cortex plasticity during constraint-induced movement therapy in stroke patients. Neurosci Lett. 250:58.
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Dr. Nicodemos Teles de Pontes Filho, mestre em Imunopatologia pela UFPE, doutorando em Nutrição. Professor do Departamento de Patologia da UFPE, pesquisador do Laboratório de Imunopatologia Keizo Azami(LIKA-UFPE) , curso de especialização em Microscopia Eletrônica na Keio University no Japão.