A
Arte e o Cérebro no Processo da Aprendizagem
Profa. Celeste Carneiro
FACILITANDO A APRENDIZAGEM
Com as recentes pesquisas sobre o funcionamento
do cérebro, a Teoria das Inteligências Múltiplas, a
avaliação das aptidões cerebrais dominantes, e técnicas
que foram criadas para acelerar a aprendizagem, tornou-se muito mais fácil
aprender e gravar na memória o que estudamos.
Psicólogos, neurologistas e pesquisadores
vêm escrevendo os resultados desses estudos, esclarecendo-nos e deixando-nos
entusiasmados com os resultados obtidos por quem utiliza essas técnicas.
O LADO DIREITO DO CÉREBRO
A grande maioria das pessoas foi acostumada
a pensar e agir de acordo com o paradigma cartesiano, baseado no raciocínio
lógico, linear, seqüencial, deixando de lado suas emoções,
a intuição, a criatividade, a capacidade de ousar soluções
diferentes.
António Damásio, respeitado
e premiado neurologista português, radicado nos Estados Unidos e
com muitos trabalhos publicados, em seu recente livro O erro de Descartes,
afirma que “o ponto de partida da ciência e da filosofia deve
ser anti-cartesiano: "existo (e sinto), logo penso”.
A visão do homem como um todo, é
a chave para o desenvolvimento integral do ser.
Mandala - Autora: Iraci Santana. |
Utilizando mais o hemisfério
esquerdo, considerado racional, deixamos de usufruir dos benefícios
contidos no hemisfério direito, como a imaginação
criativa, a serenidade, visão global, capacidade de síntese
e facilidade de memorizar, dentre outros.
Através de técnicas variadas
poderemos estimular o lado direito do cérebro e buscar a integração
entre os dois hemisférios, equilibrando o uso de nossas potencialidades.
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Músicas para relaxamento, como as
“new age”, surtem os mesmos efeitos.
Nossa mente regula suas atividades através
de ondas elétricas que são registradas no cérebro,
emitindo minúsculos impulsos eletroquímicos de variadas freqüências,
podendo ser registradas pelo eletroencefalograma. Essas ondas cerebrais
são conhecidas como:
Beta,
emitidas quando estamos com a mente consciente, alerta ou nos sentimos
agitados, tensos, com medo, variando a freqüência de 13 a 60
pulsações por segundo na escala Hertz;
Alfa,
quando nos encontramos em estado de relaxamento físico e mental,
embora conscientes do que ocorre à nossa volta, sendo a freqüência
em torno de 7 a 13 pulsações por segundo;
Teta,
mais ou menos de 4 a 7 pulsações, é um estado de sonolência
com reduzida consciência; e
Delta,
quando há inconsciência, sono profundo ou catalepsia, emitindo
entre 0,1 e 4 ciclos por segundo.
As duas últimas são consideradas
patológicas.
Geralmente costumamos usar o ritmo cerebral
beta. Quando diminuímos o ritmo cerebral para alfa, nos colocamos
na condição ideal para aprendermos novas informações,
guardarmos fatos, dados, elaborarmos trabalhos difíceis, aprendermos
idiomas, analisarmos situações complicadas.
A meditação, exercícios
de relaxamento, atividades que proporcionem sensação de calma,
também proporcionam esse estado alfa.
De acordo com neurocientistas, analisando
eletroencefalogramas de pessoas submetidas a testes para pesquisa do efeito
da diminuição do ritmo cerebral, o relaxamento atento ou
o profundo, produzem aumentos significativos de beta-endorfina, noroepinefrina
e dopamina, ligados a sentimentos de clareza mental ampliada e de formação
de lembranças, e que esse efeito dura horas e até mesmo dias.
É um estado ideal para o pensamento sintético e a criatividade,
funções próprias do hemisfério direito.
Como é fácil para este hemisfério
criar imagens, visualizar, fazer associações, lidar com desenhos,
diagramas e emoções, além do uso do bom humor e do
prazer, o aprendizado será melhor absorvido se estes elementos
forem acrescentados à forma de se estudar.
USO INTEGRAL DO CÉREBRO
O ideal é que nos utilizemos de
todo o potencial do cérebro, riquíssimo, surpreendente!
Quando levamos uma vida inteira exercitando
quase que só as funções do hemisfério esquerdo,
ou só o lado direito, ocorrem as doenças cerebrais degenerativas,
tão temidas, como o mal de Alzheimer, por exemplo.
Necessitamos, portanto, estimular as diversas
áreas do nosso cérebro, ajudando os neurônios a fazerem
novas conexões, diversificando nossos campos de interesse, procurando
nos conhecer melhor para agirmos com maior precisão e acerto.
Howard Gardner, o psicólogo americano criador da Teoria das Inteligências Múltiplas, identificou inicialmente sete tipos de inteligência no ser humano que são estimuladas e expressas de formas diferentes, de acordo com cada pessoa. São elas:
Atualmente foi acrescentada a inteligência
naturalista e a existencial, estando esta última ainda em estudo.
A Teoria das Múltiplas Inteligências
deverá ser aplicada não apenas com os diversos indivíduos,
para atingir cada pessoa, de acordo com o seu ponto de interesse, mas em
nós mesmos, buscando desenvolver cada tipo de inteligência
que trazemos em estado latente.
Foi desenvolvido nos Estados Unidos um sistema de avaliação das aptidões cerebrais dominantes, utilizado também por alguns escritores nacionais e que mostra com clareza quais as áreas do cérebro que damos maior preferência e, daí, é feito um perfil psicológico da pessoa, sua maneira de agir na vida, qual o lugar de sua preferência numa sala de aula, como melhor aprende, etc. A esse resultado, temos acrescentado outros elementos, dentro de uma visão holística do ser humano, que tem ajudado bastante as pessoas.
Conhecendo as áreas que são
mais estimuladas, passa-se então a praticar uma série de
exercícios para ativar as regiões menos utilizadas, de modo
que, com o passar do tempo, nossa capacidade de agir como um ser humano
integral estará bastante aprimorada.
Seremos lógicos e intuitivos, práticos
e sonhadores, racionais e emotivos, seguiremos os padrões vigentes
e utilizaremos a nossa criatividade, teremos “os pés no chão
e a cabeça nas estrelas”... Seremos, enfim, do céu
e da terra, captando todos os ensinamentos com facilidade, independente
da faixa etária. Isto nos tornará muito mais capazes e autoconfiantes.
EXPERIÊNCIA
COM O HEMISFÉRIO DIREITO
Figura humana de imaginação
(acima) e, à direita, de observação.
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Desde 1992, quando iniciamos a coordenar
o curso DLADIC – Desenvolvimento do lado direito do cérebro, onde
utilizamos o desenho como pretexto para atingir os nossos objetivos, que
vimos nos surpreendendo com o manancial riquíssimo que possuímos,
armazenado em nosso cérebro, aguardando as condições
propícias para se manifestar.
Nesse período, passaram pelo curso mais de trezentas pessoas. Cada uma com um interesse diferente, com uma motivação própria. Quase todas, nos primeiros contatos, afirmavam ser incapazes de fazer qualquer tipo de desenho, de criar alguma coisa, de prestar atenção ou se concentrar em algo. No decorrer do processo de desbloqueamento, essas pessoas iam ficando surpresas com os resultados visíveis nos seus trabalhos artísticos e com a descoberta de uma nova forma de ver o mundo e de ver-se a si mesmas. Um dos primeiros exercícios é o de atenção, concentração, meditação. Utilizando uma folha de papel tamanho ofício, sem tirar o lápis do papel, o aluno vai traçando linhas retas horizontais e verticais que se cruzam, formando uma composição. Após preencher a folha de acordo com o seu gosto, pode consertar as linhas que ficaram mais tortas e, em seguida, contorná-las com hidrocor preto e pintar as formas que as linhas fizeram de modo que desligue temporariamente o hemisfério esquerdo a fim de dar vazão ao hemisfério direito, enquanto ouve-se música relaxante ou subliminar, em profundo silêncio, meditando sobre as seguintes questões: |
São questionamentos que a pessoa
vai fazendo e respondendo a si mesma, sem externar para os outros, se assim
o quiser. Inclusive os próprios desenhos, que são utilizados
como pretextos para ter acesso ao lado direito do cérebro, não
precisam ser mostrados a ninguém. É um momento íntimo,
pessoal, onde nos damos o direito de ser o que somos, com erros e acertos,
sem censuras nem justificativas, arriscando a exploração
de um campo novo e cheio de surpresas. É um caminho para o
autodescobrimento.
Nesse exercício vemos alunos realizando
trabalhos quase perfeitos num prazo de uma aula, e passando duas a três
aulas para corrigir o que foi feito! Outros, se negam a consertar,
dizendo: “minha vida é assim mesmo, cheia de traços
tortuosos, não quero corrigi-los.” Alguns mostram-se confusos
com a simplicidade da proposta, tão acostumados estão com
a complexidade dos desafios que enfrentam diariamente. E refazem
o exercício várias vezes, até conseguirem atender
a contento a orientação dada...
Estando pronto o trabalho, a alegria é
estampada no rosto diante da composição inesperada.
Às vezes colocam no quadro, emoldurando-a, sentindo-se artistas.
Dessa composição, estimulamos a criatividade sugerindo a infinidade de novos trabalhos que poderão surgir a partir de pequenos detalhes ampliados e explorados com os mais diversos materiais e para as mais variadas finalidades: mural, divisória, painel, quadros a óleo, colagens, objetos tridimensionais, etc. No exercício para desenvolver o poder mental, vemos aqueles que estão acostumados à meditação, à busca do crescimento espiritual, se entregarem à tarefa com determinação, conseguindo colocar no papel o que visualizou e dando um colorido forte, rico em contrastes, prosseguindo em casa com as variações desse mesmo trabalho. Já os que não se preocupam muito com estas questões sentem mais dificuldade e precisam de um maior assessoramento.
Trabalhando com a criatividade, aproveitamos
o desenho de observação para uma nova composição,
onde o objeto do desenho é dissolvido, passando a ser parte do processo
criativo, misturando-se com o todo. Tiramos parte desse trabalho,
ou detalhes para novas criações, como se fosse uma cornucópia
de onde saem sempre novas idéias.
Com esse exercício chamamos a atenção
para o trabalho em equipe. A importância de cada componente
para que o grupo ou a empresa sobressaia. Quando destacamos alguém
da equipe, por mais insignificante que seja, poderemos estimulá-lo
e ver surgir um rico potencial de grande utilidade e beleza. Quando
valorizamos um pequeno grupo da equipe, o rendimento também pode
ser bem melhor. Também ressaltamos a importância de
respeitar os limites, os espaços.
Num estágio mais adiantado trabalhamos
com o desbloqueio dos vícios de observação e a flexibilidade
mental.
Nas tarefas recebidas, o aluno vai
esquecer o nome dado às coisas e procurar ver o real, sem simbolismo
algum, exatamente o que está à sua frente. Por vivermos distanciados
do real, do verdadeiro, sofremos tanto! Imaginamos tantas coisas
diante de um fato, de um gesto, de um acontecimento, quando o significado
real era outro, completamente diferente do imaginado!
Neste trabalho, é solicitado a ver as situações por diversos ângulos: por dentro, por fora, comparando tamanhos, aberturas, distâncias... Saindo da parte para o todo e vice-versa, de forma constante, num estado de relaxamento atento, esquecido do tempo e das preocupações que tinha nos momentos que antecederam a aula. É sugerido que leve a experiência para o dia-a-dia, procurando descobrir sempre novas soluções para os problemas e desafios da vida, evitando não cristalizar idéias e pontos de vista.
Estimulamos a observação
atenta do companheiro que trilha conosco o mesmo caminho na vida, flexibilizando
a mente para olhá-lo sem os conceitos e preconceitos que enraizamos
em nós mesmos ao longo da convivência. Por mais tempo que
tenhamos de convivência, não conhecemos ninguém o suficiente,
pois todos nós estamos em processo contínuo de mudança.
E cada pessoa é sempre uma incógnita que nos surpreende.
Utilizamos nesse exercício a figura
humana em desenhos realizados com traços, a lápis ou bico
de pena.
No decorrer do curso algumas pessoas saem
e dão um tempo. Depois voltam e me dizem que determinado trabalho
mexeu tanto com elas que resolveram fazer terapia ou se trabalharem melhor
em determinado aspecto que não tinham dado a devida importância
antes.
Outras, com um pequeno estímulo,
descobrem o potencial artístico que têm e se lançam
no mundo das artes, criando e pintando quadros que são levados à
exposição até em outro estado do Brasil. Uma
dessas alunas, fez apenas um mês de aula e passou a pintar quadros,
viajando em seguida por vários países, descobrindo coisas
novas, deixando dois painéis seus num restaurante da Nova
Zelândia.
Vemos crianças conseguindo concentrar-se em casa para fazer os seus deveres estudantis, adolescentes encontrando mais facilidade na aprendizagem das matérias escolares, adultos escrevendo melhor, compreendendo a comunicação não-verbal, lendo mais e conseguindo um maior relaxamento diante das tensões diárias. Idosos empregando o seu tempo na aquisição de maiores conhecimentos, na realização de antigos sonhos, na descoberta de suas potencialidades.
A música, o silêncio interior
e exterior, os exercícios de desenho, de criatividade, as mandalas
e, em algumas ocasiões, a videoterapia, têm sido fortes aliados
na conquista dessa riqueza íntima que possuímos e não
sabíamos ser possuidores.
Com os avanços das pesquisas sobre
o cérebro, acrescentamos novas abordagens a este curso, visando
o uso de todo o potencial do cérebro, procurando equilibrar o hemisfério
esquerdo com o hemisfério direito. Passou então a ser chamado
Criatividade e Cérebro, para aulas em grupo e Em busca da harmonia,
para ser mais feliz, para o atendimento individual.
Atualmente, encontram-se à disposição
de quantos queiram estar preparados para o novo milênio, os mais
diferentes recursos de crescimento interior, divulgados pelos mais diversos
meios, através de profissionais interessados na formação
de uma nova sociedade. É só buscar...
Os desenhos enviados são de pessoas sem nenhuma experiência nessa área, que tinham dificuldade de concentração, memorização e criatividade
Bibliografia:
Desenhando com o lado direito do cérebro
– Betty Edwards - Ediouro
Aprendizagem e criatividade emocional
– Elson A. Teixeira – Makron Books
Cérebro esquerdo, cérebro
direito - Springer e Deutsch – Summus Editorial
Alquimia da Mente – Hermínio C.
Miranda – Publicações Lachâtre
Viver Holístico – Patrick Pietroni
– Summus Editorial
Revista Planeta, nº 201 – junho 1989
Revista Globo Ciência, ano 4, nº
39
Revista Nova Escola – Setembro 1997
Autora
Celeste Carneiro é orientadora
do curso Criatividade e Cérebro, Facilitando a Aprendizagem, Mandalas
Terapêuticas, e outros que visam estimular os hemisférios
cerebrais.
É artista plástica, educadora e terapeuta. E-mail: cel5@terra.com.br |