Fatos breves sobre cérebro e comportamento

Comportamento Instintivo: Padrão Fixo de Ação (PFA)
Silvia Helena Cardoso, PhD

Uma das cenas mais curiosas que já vi em comportamento animal, é a de um pássaro (um cardeal) colocando insetos nas boquinhas de... 'peixes' em uma pequena lagoa (Fig.1 ).
 


Fig.1. Um cardeal alimenta peixinhos em uma pequena lagoa, os 
quais subiram à superfície em busca de restos de comida.
Durante várias semanas o pássaro fez isso, possivelmente
porque o seu ninho fora destruído. 

Reproduzido de: Animal Behavior, N. Tibergen, Time Inc, 1966.

Seria comovente, se nao fosse compreensivel: o pássaro não estava apiedado e tampouco solidarizava-se com os peixes famintos, dividindo com eles o seu alimento. O que provavelmente ocorreu é que, por ter perdido a sua ninhada, ele estava respondendo inadequadamente ao que o seu instinto paternal dominante determinara, ou seja, ao avistar estímulos similares aos de seus filhotes (pequenas bocas abertas), isso desencadeou um comportamento estereotipado e inato que recebe em etologia o nome de padrao fixo de ação (PFA), ou atos motores instintivos. PFA são comportamentos estereotipados e inatos. Eles são determinados geneticamente, e possuem uma interação complexa com estímulos ambientais. O etologista holandês Niko Tinbergen, premio Nobel, foi um dos primeiros a estudar os PFAs em vertebrados, como gaivotas, patos, etc.

Um exemplo clássico de PFA estudado por Tinbergen é o do comportamento de catar ovos pelo ganso fêmea  Ao ver o ovo fora do ninho (estimulo desencadeante), a femea inicia um movimento repetido de arrastar o ovo com o bico e o pescoço. No entanto, se o ovo escapar ou se o experimentador retirá-lo, o ganso continua a efetuar os movimentos estereotipados mesmo na ausência do ovo, até chegar ao ninho, quando então tem que começar tudo de novo. Portanto, o
PFA parece corresponder a uma circuitaria neural tambem fixa, "disparada" pelo conjunto de estímulos desencadeantes.
 
 


Fig. 2. Comportamento de catar ovos pelo ganso femea. Ao ver o ovo
fora do ninho (estímulo desencadeante), a fêmea inicia um movimento 
repetido de arrastar o ovo com o bico e o pescoco. No entanto, se o ovo
escapar ou se o experimentador retirá-lo, o ganso continua a efetuar os 
movimentos estereotipados mesmo na ausência do ovo até chegar
ao ninho, quando então tem que começar tudo de novo. O PFA parece 
corresponder a uma circuitaria neural também fixa, "disparada"
pelo conjunto de estimulos desencadeantes.

Reproduzido de Etologia - Introducción Al Estudio Comparado del Comportamiento 
I. Eibl-Eibesfeldt Ediciones Omega - Barcelona, 1974

O ser humano também tem vários movimentos instintivos, que se manifestam geralmente no pós-natal imediato. São denominados de reflexos comportamentais. Um deles é o muito característico reflexo de prensão das mãos do recém-nascido, que se agarra fortemente ao redor do objeto que o toca (Fig. 3). Experiências quantitativas mostram que eles reagem com maior força ao contato dos cabelos e pelos. Esse PFA evolutivamente surgiu nos primatas, para fazer com que o filhote se agarre no pelo da mãe e não caia durante movimentos fortes. Colocado sobre um fio de varal, o recém-nascido se agarra nele fortemente com as mãos e os pés, ficando suspenso sem a ajuda de um adulto.
 


Fig. 3. O ser humano também tem vários atos motores instintivos, que se
manifestam geralmente no pós-natal imediato. São 
denominados de reflexos comportamentais. Um deles é o 
do recém-nascido que se agarra fortemente em um fio de varal, podendo
ficar suspenso. Esse ato evolutivamente 
surgiu nos primatas, para fazer com que o filhote se agarre no 
pelo da mãe e não caia durante movimentos fortes.

Reproduzido de Etologia - Introducción Al Estudio Comparado del Comportamiento 
I. Eibl-Eibesfeldt Ediciones Omega - Barcelona, 1974