Terror |
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Sonhos aterrorizadores são parte da natureza humana: existem muito poucas pessoas que nunca tiveram um pesadelo uma vez na vida. Como mostra a figura acima, os gregos antigos pensavam que, durante o pesadelo, se era dominado por um "incubus" (um pequeno demônio), que se sentava no tórax do sonhador, levando-o à sensação de sufocamento, dificuldades respiratórias, e um coração pesado e acelerado.
Entretanto, existe um tipo raro de fenômeno ameaçador durante o sono que não é exatamente como um pesadelo. Ele é chamado de "terror noturno"ou "Pavor Nocturnus" e é um severo distúrbio do sono, consistindo de ataques de terror agudo emergindo do sono profundo sem sonhos. É acompanhado por violentos movimentos corporais, agitação extrema, gritos, gemidos, falta de ar, suor, confusão, e em alguns casos, fuga da cama ou do quarto, comportamento destrutivo e agressão dirigida a objetos ou contra eles mesmos ou outras pessoas. Feridas, fraturas e lesões podem ocrrer em consequência.
O terror noturno ocorre durante a fase do sono não-REM (não-Rapid Eye Movement) geralmente dentro de uma hora após o sujeito ir para a cama (estágio 4 do sono). Um episódio pode acontecer em qualquer lugar e durar de cinco a vinte minutos enquanto o sujeito ainda está sonolento. Os olhos podem se abrir. O paciente geralmente é incapaz de se lembrar de qualquer coisa após o acontecido.
Terror noturno pode coincidir com sonambulismo (de fato, 1/3 das crianças com terror noturno também têm sonambulismo), em cujo caso andar e correr ocorre em conjunção com gritos, saltos e agitação violenta. Episódios mais moderados, chamados "excitação confusional" são mais comuns em crianças, e pode envolver somente gemidos, balbucio e agitação motora da cabeça, corpo e pernas. Após o episódio, de nada resolve consolar ou tranquilizar o paciente.
Durante o ataque de terror noturno, existe uma superativação do sistema nervoso autônomo simpático, incluindo dilatação das pupilas, sudorese, aumento nas taxas respirátórias e cardíaca, e aumento na pressão arterial. A taxa do coração (taquicardia) pode aumentar até 160 a 170 batimentos por minuto (o normal geralmente é de 60 a 100 no adulto), os quais são maiores que aqueles ocorrendo durante os episódios de estresse mais severos.
Abaixo, imagens de um paciente filmado
durante ataque de terror noturno em um laboratório de pesquisa dos
EUA.
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De acordo com a classificação international DSM-IV de distúrbios psicológicos, são os seguintes os critérios usados para diagnosticar o distúrbio do terror noturno:
O terro noturno é um tipo de parainsônia (ocorrências de movimentos e comportamentos inapropriados durante o sono). As parainsônias mais comuns são as paroxísticas em natureza ("ataques") e estas incluem terror noturno, pesadelos, sonambulismo ("andar dormindo") e enurese ("fazer xixi na cama"). As causas do terror noturno ainda são desconhecidas, mas é acreditado ser fisiológico e não psicológico. Ansiedade extrema, estresse e conflitos, conscientes ou subconcientes são fatores facilitadores. Em crianças, a precipitação de eventos traumáticos, febre e distúrbio emocional pode exibir um papel.
Pesadelos e terror noturno não são a mesma coisa; os primeiros são distúrbios do sonho ocorrendo durante o sono REM (rapid eye movement), enquanto o terror noturno não têm esta associação e ocorre no estágio 3 e 4 do sono profundo. Pesadelos são facilmente lembrados e não levam a confusão mental e desorientação, sonambulismo e outros fenômenos que são típicos de terror noturno. Além do terror noturno, dois outros distúrbios, sonambulismo e enurese geralmente ocorrem no estágio 4 do sono, e não durante o sonho. O EEG durante o repouso em pacientes com terror noturno geralmente é normal.
Entretanto, o terror noturno pode ser influenciado por qualquer coisa que prolongue ou intensifique o sono, tais como mudanças abruptas no rítmo sono-despertar, e também por privação de estágios mais profundos do sono (3 e 4). Algumas vezes eles emergem em pacientes que tomam medicamentos antidepressivos e param de tomá-los (estes medicamentos, tais como os antidepressivos tricíclicos e inibidores na monoamina oxidase, são conhecidos por suprimir o sono REM).
Algumas teorias biológicas do terror noturno apontam para uma imaturidade do sistema nervoso como possível causa, mas ela não foi comprovada. Entretanto, é verdade que ela é mais frequente em crianças entre as idades de três e cinco anos. 1 a 4 % das crianças mostram no mínimo episódios recorrentes e crianças do sexo masculino são mais afetadas do que as do sexo feminino. Nas crianças, geralmente é um distúrbio auto-limitante, que desaparece espontaneamente após poucos episódios.
Adultos podem experenciar episódios semanalmente, e algumas vezes, várias vezes na semana. O distúrbio pode levar anos para desaparecer e o tratamento é mais difícil.
Não existem evidências de fatores genéticos, mas algumas vezes susceptibilidade a terror noturno acontece em famílias.
A primeira conduta a ser tentada é minimizar o estresse e os fatores pré-disponentes, tais como irregularidades do tempo de ir para a cama e do tempo de despertar, e comer alimentos condimentados ou gordurosos antes de ir para a cama. No caso em que o paciente está tomando qualquer droga pré-disponente, ela deve ser suspensa gradualmente. Psicoterapia a longo prazo frequentemente é necessária. Técnicas de hipnose e biofeedback também podem ajudar. Certas drogas psicoativas tais como os antidepressivos tricíclicos e benzodiazepinas (diazepam) podem ser usados para o controle a curto prazo do terror noturno, mas o seu resultado não é certo e deve ser evitado quando possível.
O
tratamento também deve ter como objetivo proteger o paciente de
possíveis danos contra eles mesmo e contra os outros. Agressão
interpessoal pode ser evitada por fazer o indivíduo dormir sozinho.
dispositivos eletrônicos podem ser usados para despertar o paciente
com um alarme de som alto quando o movimento do corpo indicativo de um
episódio de terror noturno ocorrer. Um engenheiro eletrônico,
após sofrer um destes episódios, em que destruiu os móveis
e objetos de seu quarto e quebrou um braço, inventou o "olho
elétrico": um raio infravermelho invisível colocado
30 cm acima da cama, o qual é interrompido quando a pessoa se senta
sobre a cama, e então dispara o alarme. fechando a porta e janelas
do lado de fora também ajuda a prevenir pacientes de deixar o quarto
durante os episódios de terror noturno. Crianças podem ser
pegas no colo acalmando-as nos braços e falando suavemente com ela,
até que a sensação de terror diminua.
Silvia Helena Cardoso, Psicobióloga, mestre e doutora em Ciências.Diretora fundadora e editora-chefe da revista Cérebro & Mente. Universidade Estadual de Campinas. |
Renato M.E. Sabbatini, Diretor do Núcleo de Informática Biomédica, Universidade Estadual de Campinas. |
Images: Brain
Research Institute, Los Angeles, California, US, por Dra. Silvia H.
Cardoso.
Captura de vídeo e conversão: Marçal
dos Santos, Diretor, Centro de
Computação, Universidade Estadual de Campinas e
Wanderlei Fraiha Paré,
Unidade de Produção Gráfica, Centro de Comunicação;
Alexandre Moreno Castellani,
webmaster, Center for Biomedical Informatics.