Ventrículos Cerebrais: Nosso Lago Interno

Silvia Helena Cardoso, MSc, PhD

Nós temos água no cérebro e na medula espinhal. Por que? Primeiro, para sustentá-los e amortece-los contra choques. Segundo, para "limpar" resíduos do metabolismo, drogas e outras substâncias que se difundem no cérebro através do sangue, além de servir como meio de difusão de células de defesa imunológica e de anticorpos. Terceiro, para nutrir o epêndima e estruturas periventriculares.

O fluído do cérebro é chamado de líquido céfaloraquidiano (líquor) ou fluído cérebro-espinhal. O líquor é um líquido claro, com pequenas quantidades de proteína, potássio, glicose e cloreto de sódio. Se o crânio for subitamente deslocado, a densidade do líquor serve para reduzir o impacto entre o encéfalo e os ossos do crânio, reduzindo por meio disso, danos concussivos. Se o cérebro ou os vasos sanguíneos que o irrigam aumentam de volume, o líquor é drenado e diminui a pressão intracraniana, para manter o volume constante.

O crânio é como uma "caixa rígida". Quando a pressão intracraniana é aumentada (por injúria ou hidrocefalia), o crânio se torna excessivamente preenchido com tecido cerebral inchado, sangue, ou líquor e pode aumentar a pressão sobre o tecido cerebral. A pressão intracraniana aumentada pode causar mudanças nas respostas dos pacientes incluindo agitação, confusão, resposta diminuída, e coma.

O líquor circula no cérebro e medula espinhal através de cavidades especiais que constituem o chamado sistema ventricular (do termo em latim venter, cavidade). As cavidades são designadas como dois ventrículos laterais, o terceiro ventrículo e o quarto ventrículo. Comunicando os ventrículos laterais com o terceiro ventrículo encontram-se os forames ventriculares (um em cada hemisfério cerebral), enquanto o aqueduto de Sylvius comunica o terceiro ventrículo, situado no diencéfalo, com o quarto ventrículo, situado no rombencéfalo. Em cada uma das quatro cavidades ventriculares evagina-se um plexo vascular, responsável pela produção do líquor (o plexo coróide)

Os ventrículos laterais invadem os lobos frontal, temporal e occipital. Por isso, são considerados em cada ventrículo, três cornos: um anterior ou frontal, outro posterior ou occipital e, finalmente, o inferior ou temporal.

Cada ventrículo contém o plexo coróide (tecido especializado dos ventrículos) que produz o líquor.

Se houver uma obstrução em determinado ponto, o líquor se acumula e comprime o tecido nervoso vizinho de encontro à caixa craniana que o protege. Originam-se assim, casos de hidrocefalia, com sérios prejuízos das funções cerebrais. As cavidades ventriculares ficam excessivamente amplas, devido à estagnação do líquido em seu interior. Com isso, aumenta a pressão intracraniana (veja Hidrocefalia).



Visão dos Ventrículos


Reproduzido com permissão


Anatomia dos Ventrículos

Ventrículos Laterais

Terceiro Ventrículo

Quarto Ventrículo


Circulação do Líquido céfaloraquidiano


Special: Ser Humano Visível: Secções Anatômicas Congeladas e de Ressonância Magnética do Sistema Ventricular


Distúrbios da Circulação

Hidrocefalia


Referências



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Autor: Dra. Silvia Helena Cardoso, Psicobióloga, com mestrado e doutorado pela Universidade de São Paulo e pós-doutorado pela Universidade da Califórnia em Los Angeles. É Pesquisadora associada e Professora convidada do NIB/UNICAMP , editora-chefe e idealizadora da Revista "Cérebro & Mente".

Revisto e comentado por Dr. Norberto Cysne Coimbra, Médico, Neuroanatomista, Neurocientista e Biologista Celular, com mestrado e doutorado pela Universidade de São Paulo. É Professor de Neuroanatomia na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Ribeirao Preto da Universidade de São Paulo .

Realização: Núcleo de Infomática Biomédica


Silvia Helena Cardoso, PhD
Correspondência

Copyright 1997 Universidade Estadual de Campinas
ISSN 1414-4018