Cérebro e Música
(Discussão extraída do curso a distância de Neuroanatomia)
28 de Março, 2004
(by Silvia Helena Cardoso)

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Sender: Silvia Helena Cardoso

Gostaria de aproveitar os conhecimentos sobre música e neurocognição de cientistas nesta área aqui deste curso e fazer uma ponte com nossa aula atual (SNA).

Uma das coisas que mais me fascina, mas que também me intriga na música (para mim, particularmente a música clássica), é a transformação que ela causa no meu corpo e cérebro. Algumas músicas clássicas, além de promoverem-me diversas reações autonômicas, como lágrimas aos olhos, relaxamento corporal, facial, labial, evocação de memórias relacionadas a ela, maior sensação e percepção da beleza humana, me fazem também sentir "viajar para outras galáxias". Enfim, a música me faz sentir um profundo bem estar.
Por que temos essa sensação?'
Já está provado que o sistema límbico exerce um importante papel na reação à música. No sistema límbico há um grande número de receptores opióides que são altamente sensíveis à presença de endorfinas (aquela que ativa circuitos anti-nociceptivos, ou seja, circuitos atenuadores da sensação de dor). As endorfinas são liberadas através de reações pelo sistema nervoso autonômico. Alguns estudos têm mostrado que ouvir música libera endorfinas, o que então causa a resposta emocional que nós sentimos (Mercédes Pavlicevic, Towards a Music-based Understanding of Improvisation in Music Therapy ).

Estes fatos já estudados e comprovados me levam a outras dúvidas que eu ainda não encontrei na literatura, e que eu gostaria de perguntar a você, Tevão, se já existe algo a respeito:
- Será que a música também atenua a dor, já que ela libera endorfinas? Existe algum trabalho publicado neste sentido?
- E sobre o efeito terapêutico da música: poderia citar alguns e como agem no SNC e SNA? Conheço um estudo feito com crianças que tinham pressão anormalmente alta devido ao acidente nuclear de Chermobyl e que demonstraram um claro efeito simpatolítico com terapia musical. Caso se interesse pelo artigo, veja:
Normalisation of Haemodynamic parameter in children with autonomic nervous system disturbances em:
http://www.scientificmusictherapy.com/06_cerebral_&_%20nervous_system/cerebral_&_nervous_system11haemodynamic.htm
- E finalmente, considerando que a divisão simpática do SNA "energiza" o corpo, como aumentar frequência cardíaca, diparar um rush de adrenalina, etc, e o parassimpático "acalmar" o corpo e trabalhar para conservar energia. Poderíamos deduzir então que alguns tipos de músicas, por exemplo, as mais agitadas afetam o simpático e as mais calmas o parassimpático, certo?

Abraços.

Silvia


Sender: Ademar João Pedron

Dra. Sílvia, talvez possa colaborar com sua pergunta citando o cientista búlgaro Losavov: Ele descobriu que suas folhagens, ele é botânico, estavam verdejantes e belas, porque tinha o costume de ouvir música clássica orquestrada e lente e, num insight, ele resolveu colocar alguns folhagens numa estufa diferente e colocar música com o ritmo de jass e... as plantas começaram a murchar! Ele então foi fazendo outras experiências e acontecia a mesma coisa. Passou entao a fazer testes com animais: vacas e, tocando música clássica e lenta, as vacas davam mais leite e leite com mais gordura e quando tiravam o leite com música jass, as vacas seguravam o leite e havia uma diminuição bastante significativa de leite. Com isso tudo ele concluiu que havia uma mudança cerebral também muito significativa e resolveu fazer o teste com crianças e percebeu uma grande diferença na aprendizagem. Por que ? A explicação dada pela neurolingüística, agora espero uma resposta maior na neuroanatomia, diz que, ouvindo música clássica, orquestrada e lenta a pessoa passa do nível alfa ao nível beta e baixando a ciclagem cerebral aumentam as atividades dos neurônios e as sinapses se tornam mais rápidas e facilitam a concentração e a aprendizagem. Isso estou citando meu livro: Metodologia científica: auxiliar do estudo, da leitura e da pesquisa. 4. ed. Brasília: Edição do Autor, 2003, p. 65.
Pesquisa realizada e depois testadas por mim, do Livro sobre o método de Losavov:

OSTRANDER, Sheila; SCHOEDER, Lynn. Super-aprendizagem pela sugestologia. Rio de Janeiro: Record, 1978.

Pena que o autor é búlgaro, se fosse americano todos já o conheciam... (crítica bem velada, não ?)
Aí vão meus pensamentos. Pedron



Sender: Silvia Helena Cardoso

Caro Ademar,

Interessantíssima sua colocação. Eu já conhecia o autor búlgaro Georgi Lozanovi porque ele está citado no livro que tenho The Photopraphic Mind (ele investigou também este efeito da memória fotográfica além da hipermnésia e outros brain powers). O Psicológo e cientista Lozanovi foi quem primeiro descobriu (em 1960) que certas estruturas musicias permitem aos estudantes absorverem e reterem informação mais rapida e facilmente e nomeou este processo de aprendizagem acelerada.
No método dele, ele usa três formas distintas para acelerar o aprendizado:
- faz uma música introdutória para relaxar os participantes e alcançar um ótimo estado para a aprendizagem
- Em seguida faz um "concerto ativo", no qual a informação a ser aprendida é lida com música expressiva
- E um "concerto passivo" no qual o aprendiz ouve a nova informação lida e falada com um background de música barroca para levar a informação até a memória de longo prazo.

Silvia



Sender: Silvia Helena Cardoso

As características da aprendizagem acelerada são encontradas em muitos fragmentos de músicas barrocas, clássicas e algumas românticas. Nestas músicas, a freqüência cai de uma extensão de 40 a 60 batidas por minuto para um padrão ritmico de aproximadamente uma batida por segundo. Este ritmo é semelhante à batida do coração. Os batimentos cardíacos de uma pessoa ao ouvir este rítmo irão diminuir para seguir a música. Esta "resposta de acompanhamento" significa literalmente estar em sintonia com a música. À medida que o corpo relaxa ao rítmo da música, a mente se torna alerta em uma forma simples de relaxamento - sem concentração, sem meditação, sem focalizar na respiração ou nos músculos para que eles se relaxem. Basta ouvir a música e sua mente simplesmente se abre! E neste estado, os estudantes, mais relaxados (e encantados) são capazes de aprender mais em menor tempo.
Coloco abaixo alguns exemplos deste tipo de música. Ao ouvirem, POR FAVOR não deixem que as endorfinas liberadas pelo seu sistema nervoso autônomo o impeçam de observar o que eu estou querendo mostrar: uma batida por segundo, muito sútil, no fundo da música (é como um TUM, TUM, TUM bem suave, como a batida do coração) (talvez seja mais difícil alguns perceberem isso, dependendo do seu sistema de som de seu computador).

Albinoni: Adagio
Pachelbel: Canon in D
Marcello: Adagio from Oboe Concerto

Deleitem-se!

Silvia



 





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